Estudos Culturais – O que são? O que estuda? Quais os objetivos?

Os estudos culturais compõem uma corrente de pensamento que teve início entre os anos 1950 e 1960 e que procurou analisar a cultura para muito além de uma simples reunião de costumes e hábitos de uma sociedade. Na concepção de seus intelectuais, a cultura perpassa por todas as práticas sociais e seria o resultado da relação entre essas práticas e seus atores.

O próprio nome deixa claro que essa teoria está sempre em transformação, já que consta a palavra “estudos” em seu nome. Ela possui natureza interdisciplinar, reunindo diversas áreas distintas para compor as suas análises em relação as interações dentro da sociedade que são baseadas na autoridade e no poder. Vejamos mais sobre os estudos culturais a seguir.

O que são estudos culturais?

Os estudos culturais estão focados na produção de significados culturais e na sua disseminação nas sociedades contemporâneas. Enfim, os seus olhos se voltam para o que estava sendo criado do ponto de vista cultural para as grandes massas. Entre os autores mais célebres dessa disciplina estão o sociólogo jamaicano Stuart Hall (1932 – 2014), o crítico galês Richard Hoggart (1921 – 1988) e o sociólogo inglês Raymond Williams (1918 – 2014).

Um dos objetivos centrais dos estudos culturais é o de tratar da pesquisa da cultura social moderna como elemento relevante do ponto de vista acadêmico. Como já mencionado, em cultura aqui cabem os valores e os significados de um povo e como eles são criados e retransmitidos para as demais pessoas.

“A cultura é uma fonte de significações presente na atividade cotidiana dos indivíduos. É um conceito amplo de cultura que rompe com a noção de cultura ligada à artefatos, pois coloca as práticas cotidianas ao lado das artes. Essa ampliação do conceito de cultura nos permite enxergar toda a produção de sentidos presentes em nossa vida como recepção ativa dos conteúdos massivos a que as pessoas são expostas”, explicam Jéssica de Cássia Rossi, Juan Cesar de Francisco Marrero e Thiago Tadeu Dias Paluan, no artigo A Análise dos Estudos Culturais no Contexto da Cultura de Convergência: um Estudo de Caso sobre o papel do receptor nas Mídias Sociais.

Não à toa, os estudos culturais vão ter um forte enraizamento no campo da comunicação, que absorveu muitos de seus estudos para compreender a disseminação da produção cultural para a população. Especialistas colocam que os meios de comunicação possuem uma função essencial nesse processo, pois são atores ativos dentro dessas estruturas culturais. Os estudos culturais reúnem, além da comunicação, a Antropologia e a Sociologia, entre outras com menor participação, para analisar as relações sociais e políticas com uma visão sobre a cultura mundial.

Estudos culturais: uma disciplina política

Uma característica muito própria dos estudos culturais é a de transformar o seu saber em uma ferramenta de mudança política, com a meta de realizar uma intervenção na sociedade. Isso porque a sua opção é pela luta política em prol de um novo status quo. Sua intenção é ser parcial e não objetivo perante o objeto de estudo. Sendo assim, a ideia é levar da reflexão à crítica para que se possa transcender do ambiente acadêmico e alcançar as grandes massas de excluídos sociais.

“Em suma, os Estudos Culturais estão geneticamente ligados a um modo de produção de análise cultural que faz convergir princípios e preocupações acadêmicas com uma exigência de intervenção cívica, ou seja, articula inquietações simultaneamente teóricas e preocupações concretas com a polis”, observa Maria Manuel Baptista, no artigo Estudos culturais: o quê e o como da investigação.

Críticas aos estudos culturais

Porém, há também muitas críticas aos estudos culturais. Uma delas está justamente na sua abrangência, devido à sua multidisciplinaridade, o que acaba deixando tudo muito aberto, com muitas lacunas, sem uma fundamentação teórica mais unificada. E essa heterogeneidade impediria uma visão mais unida, o que dificultaria uma maior organização dos estudos a respeito do tema.

Outra observação contrária feita por seus críticos está na dificuldade que a disciplina tem em ser objetiva e lhe sobrar academicismo, justamente a oposição que os estudos culturais se propõem. Dessa forma, a teoria acaba ficando muito restrita ao universo intelectual, sem se aproximar das práticas culturais diárias e populares, como é a sua proposta.

Isso ocorreria da ausência de um distanciamento crítico do objeto de estudo, ao mesmo tempo em que a teoria acabaria não sendo de fato aplicada à realidade, levando a um afastamento da política e dos movimentos sociais, conforme atestam João Montenegro Reis e Mohammed El Haiji, em Teorias culturais despolitizadas: o enfraquecimento do político nos estudos culturais.

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