Migrações germânicas é o nome que se dá ao grande fluxo migratório de povos dessa etnia para dentro do território romano, sobretudo a partir do final do século III. Esse fluxo se deu ora por violentas invasões, ora por migrações permitidas pelas autoridades romanas, que assentavam esses povos em áreas estratégicas escolhidas.
Após o fim do Império Romano, esses povos, também chamados de “bárbaros” (devido ao termo que os romanos utilizavam para se referir a quem não tinha a cultura romana), deram início, durante o período medieval, a vários reinos que também darão origem a muitos dos países atuais da Europa, tais como França, Portugal, Espanha e Inglaterra.
Contexto das migrações germânicas
Desde o século II, o Império Romano convivia com a presença incômoda dos povos germânicos nas suas fronteiras. Em muitos casos, os germânicos simplesmente atravessavam a fronteira e adentravam no território romano.
Em outros casos, eles faziam um acordo no qual se tornavam federati, ou seja, aliados de Roma, com permissão para habitar determinadas áreas, e mediante o cumprimento de várias regras, tais como a defesa da terra contra invasões de outros povos, o pagamento de impostos e a colaboração militar com Roma, sempre que solicitado.
São vários os fatores que levavam esses povos a emigrar para dentro do Império. Podemos citar, entre os principais, a busca por melhores terras para cultivo, a proteção que supostamente existia ao viver dentro do Império e se tornar aliado dos romanos, bem como a necessidade de fugir de inimigos mais poderosos que viviam atacando as terras germânicas, por exemplo, os Hunos.
Por fim, parte dessa migração também se deu devido à fragilidade política, econômica e militar pela qual passava o Império Romano, o que encorajou vários desses povos a empreender uma invasão.
Principais povos germânicos
Os romanos chamavam de germânicos (ou germanos), de maneira genérica, todos os povos que viviam além dos rios Reno e Danúbio. Várias dessas tribos viviam no entorno do Império Romano, tentando periodicamente invadir a região e se estabelecer. Alguns desses povos não só conseguiram como estabeleceram reinos duradouros, e contribuíram para a configuração do mapa europeu atual. Entre eles podemos citar os seguintes:
Francos
Os francos eram um povo federati dos romanos, lutando ao lado destes em vários conflitos, sobretudo, nas guerras contra os Hunos, no século V. Após a queda do Império Romano, os Francos emergem como a principal força na Europa, criando um reino que vai ocupar o vazio de poder deixado pelos romanos e expandir seus territórios (e sua influência) ao longo dos séculos seguintes. Ao longo da Baixa Idade Média, o Reino Franco evoluiu de forma gradativa até se tornar a França moderna.
Visigodos
Esse povo se tornou federati dos romanos em 382, após vários anos de conflitos com estes. O acordo entre eles durou pouco tempo e, no início do século V, os visigodos começaram a atacar várias cidades romanas.
Em 410, a própria cidade de Roma foi atacada e saqueada. Após, os Visigodos emigraram para a Gália (atualmente França) e Hispania (Espanha), lugares onde fundaram um grande e poderoso reino.
A parte do reino que ficava na Gália foi conquistada pelos francos em 507. Já o restante do reino na Península Ibérica se expandiu após a conquista do Reino Suevo, em 585, mas este deixaria de existir após a conquista árabe, em 710.
Os visigodos sobreviventes fugiram para a região montanhosa do norte da península, de onde vão organizar a resistência contra os árabes, criando vários reinos que, futuramente, darão origem à Espanha moderna.
Suevos
Os suevos chegaram à Península Ibérica em 409 d.C, juntamente com outros invasores germânicos. Eles estabeleceram um reino com a capital na antiga cidade romana de Bracara Augusta (atual Braga).
O Reino Suevo foi relativamente curto, durou de 409 a 585, quando foi anexado pelo Reino Visigodo, mas deixou profundas marcas culturais na região. Mesmo após a anexação, os suevos continuaram com certa autonomia, e tiveram participação importantíssima no processo de reconquista da Península Ibérica, após a invasão árabe, ocorrida em 710. O Reino Suevo é considerado o embrião do que viria a se tornar o Reino de Portugal.
Jutos, Anglos e Saxões
No início do século V, Saxões, Anglos e Jutos abandonaram o norte da Germânia e a península da Jutlândia (atualmente Dinamarca) para invadir a Britânia, abandonada pelos romanos em 410. Esses povos fundaram sete reinos, e constantemente lutavam entre si: Kent, Essex, Wessex, Sussex, Ânglia Oriental, Nortúmbria e Mércia. Esses reinos formaram a base do que viria a se tornar a Inglaterra (acrescida de contribuições dos vikings dinamarqueses e dos normandos franceses.
Além desses, também podemos citar os Vândalos, Burgúndios, Lombardos e Ostrogodos, entre outros, que tiveram papel importante na história da Europa, entre o final do período antigo e a Alta Idade Média. Por muito tempo, essas migrações/invasões foram consideradas como o principal fator que desencadeou o fim do Império Romano. Embora tenham, de fato, contribuído, essas migrações encontraram um império fragmentado e em acelerada decadência.