O assíndeto é uma figura de linguagem da categoria das figuras de sintaxe. Ela se relaciona às conjunções coordenativas.
Figuras de sintaxe, ou figuras de construção, são o subgrupo das figuras de linguagem relacionado à construção das frases, à estrutura – além dela, há também as figuras de palavras, figuras de pensamento e figuras de som. Por isso, elas nomeiam e sistematizam algumas das transgressões que podemos fazer às regras gramaticais da nossa língua de forma proposital.
Mas por que não escreveríamos na norma culta de propósito?
Acontece que, muitas vezes, buscamos dar um efeito particular ao que estamos escrevendo ou criar um estilo próprio. Fazemos isso principalmente na escrita criativa, como nas poesias e narrativas.
A possibilidade de escapar às regras gramaticais propositalmente, para atender a um objetivo, é o que torna a língua portuguesa tão complexa, interessante e rica – ou seja, viva e dinâmica.
O que é Assíndeto? Para que serve?
A palavra assíndeto vem do grego “asyndeton”, que significa “não unido”, “não ligado”.
Podemos dizer que o assíndeto ocorre quando não se coloca a conjunção coordenativa que deveria ligar as palavras de uma oração ou as orações de um período.
Geralmente, utiliza-se o assíndeto para dar o efeito de destaque às palavras ou orações, pois essas recebem mais atenção do leitor ou ouvinte ao serem mantidas independentes por pausas que dão ritmo.
Podemos encontrar com frequência essa figura de sintaxe em obras literárias, quando o autor procura aumentar a expressividade de uma frase, por exemplo.
Mas o que são conjunções coordenativas?
As conjunções coordenativas são aquelas palavras responsáveis por ligar dois termos ou duas orações que têm a mesma função.
As orações coordenadas, que são precisamente as ligadas pelas conjunções coordenativas, funcionam de modo independente entre si – em outras palavras, uma não se subordina à outra.
Assíndetos vs. polissíndetos
Para compreendermos melhor o que são assíndetos, a comparação com polissíndetos pode nos ajudar. Enquanto o assíndeto se caracteriza pela ausência das conjunções, o polissíndeto, por sua vez, é a repetição das conjunções.
Assim, a omissão (assíndeto) visa ao destaque por meio do ritmo. Já a reiteração (polissíndeto) visa a conferir um efeito de ênfase.
Observe o exemplo: “Ela é simpática, mas falsa; inteligente, mas ardilosa; querida, mas perigosa.”
Com o assíndeto, o trecho fica da seguinte forma: “Ela é simpática, falsa, inteligente, ardilosa, querida, perigosa.”
O efeito de enumerar as características sem as conjunções, além de marcar um ritmo de leitura sem pausa, reforça a complexidade da possível personagem.
Por outro lado, ao optar pelo polissíndeto, o autor poderia escrever: “Ela é simpática, mas falsa, mas inteligente, mas ardilosa, mas querida, mas perigosa.”
Nesse caso, a ênfase pela repetição das conjunções confere um destaque à contradição das características.
Exemplos de Assíndetos
“A barca vinha perto, chegou, atracou, entramos.” (Machado de Assis)
“Lavava roupas da Baixa, vestia, usava, lavava outra vez, levava.” (Luandino Vieira)
“Ela comeu meu coração
Mascou, moeu, triturou, deglutiu”
(Caetano Veloso)
“Por você eu largo tudo.
Vou mendigar, roubar, matar.
Que por você eu largo tudo.
Carreira, dinheiro, canudo.”
(Cazuza)
Outros tipos de figuras de sintaxe
- Elipse
- Pleonasmo
- Anacoluto
- Antecipação
- Braquilogia
- Haplologia sintática
- Contaminação sintática
- Expressão expletiva
- Assíndeto
- Polissíndeto
- Hipérbato
Referências
BECHARA, E. Moderna Gramática Portuguesa. 37 edição. Rio de Janeiro: Editora Nova fronteira, 2009.
CUNHA, C; CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. 7. Ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2017.