O Barroco foi o movimento artístico e estético europeu que surgiu no final do século XVI, após o renascentismo – e que também ganhou forças no Brasil a partir do século XVII. Entre as características do Barroco que fazem dele um estilo marcante está o exagero.
Você já deve ter reparado que, nas artes, um movimento geralmente contraria as características do movimento que o antecedeu. Isso significa que, geralmente, um novo movimento, ou seja, uma nova forma de fazer e pensar a arte, surge opondo-se a uma forma vigente de se fazer e pensar a arte. Geralmente, busca também resgatar e ressignificar formas artísticas anteriores ao movimento vigente.
Contexto do surgimento do Barroco
O Barroco começou a se desenvolver na Itália, posteriormente se fazendo presente em países da Europa e da América. Como estilo estético, corresponde aos ideais promovidos pela Contrarreforma ou Reforma Católica, que se instaurou a partir do século XVI.
O Concílio de Trento, de 1545 a 1563, teve profunda influência nas artes sacras que marcaram os murais de Igrejas Católicas, com representações preocupadas em expressar a doutrina e a enaltecer. A imponência das pinturas e esculturas se fez presente nas principais igrejas que, até hoje, mantêm-se preservadas em sua suntuosidade.
A mentalidade da época, em que a Igreja decidiu reagir à Reforma protestante, caracteriza-se pelo conflito, por contrastes e paradoxos que se refletem, portanto, nas artes e na literatura.
A duração do movimento Barroco é alvo de debates, mas considera-se que, na Europa, ele esteve presente até pelo menos meados do século XVIII. Na América Latina, no entanto, a tradição artística teve continuidade até o início do século XX, com o neobarroco.
Características do Barroco
Se pensarmos nas características do Renascentismo, mesmo que superficialmente, podemos pensar principalmente no equilíbrio e na valorização da razão e do ser humano, certo? Então, claro, se pensarmos que o barroco se opõe a esse movimento, podemos presumir que algumas de suas características podem ser o exagero e certa desvalorização da razão. Vamos agora explorar essas características em mais detalhes!
Esse aspecto exagerado se dá na literatura barroca por meio da linguagem, no uso de expressões dramáticas e figuras de linguagem, principalmente. Se na arte da pintura o apelo aos sentidos se deu pelo contraste de iluminações, na literatura, a sinestesia ocorria pela escolha de termos que provocassem sensações diversas, marcantes, de forma a reproduzir o conflito e a crise existencial que caracterizaram a mentalidade do período.
Formalmente, o uso de hipérboles, hipérbatos e paradoxos é comum, por isso o cultismo (jogo de palavras) é também uma característica recorrente do movimento. Há também o uso do rebuscamento (uso de termos cultos), e do conceptismo (jogo de ideias).
Em sua origem conceitual, o barroco buscou resgatar a estética e valores da Idade Média e combiná-los à estética e valores da Grécia Antiga.
Por isso, há o uso de dialéticas (corpo x alma, prazer x pecado, vida x morte etc.), de oposição de ideias, para construção dos argumentos poéticos lógicos, bem como o pessimismo (descrença nos valores humanos) como característica marcante. Este é combinado de forma paradoxal ao uso da figura de Deus e de forma ainda mais paradoxal à percepção da vida como efêmera, uma espécie de valorização do hedonismo, ou seja, dos prazeres terrenos.
Podemos perceber, portanto, que, de forma geral, as características do Barroco se dão no exagero, tanto na linguagem quanto conceitualmente, e na contradição, na busca pela falta de equilíbrio e harmonia que nos faz humanos. O conflito constante entre fé e razão refletem o próprio pensamento que tanto marcou a época.
Autores e obras literárias do Barroco
- Bento Teixeira escreveu a obra que inaugurou o Barroco na literatura brasileira, intitulada “Prosopopeia”. Trata-se de um poema épico com inspiração nos textos de Camões.
- Gregório de Matos, que recebeu o apelido de “Boca do Inferno”, tornou-se bastante famoso por sonetos em que criticava, de forma satírica, a sociedade baiana, o governo e até mesmo a Igreja Católica. Nasceu em Salvador, em 1636, e, devido à perseguição da Inquisição, foi condenado ao degredo em Angola, em 1694. Retornando ao Brasil, faleceu pouco depois, em 1696, em Recife.
- Padre Antônio Vieira nasceu em Lisboa, em 1608, mas mudou-se para o Brasil em 1614, quando seu pai foi nomeado como escrivão em Salvador. Tornou-se missionário da Companhia de Jesus, sendo reconhecido como grande orador, por seus Sermões. Faleceu em Salvador, em 1697.
Referências
HANSEN, J.A. Barroco, Neobarroco e outras ruínas. REEL – Revista Eletrônica de Estudos Literários, Vitória, a. 2, n. 2, 2006.
