A zeugma é uma forma de elipse que faz parte do grupo das figuras de sintaxe, que alteram as frases em sua estrutura.
Figuras de sintaxe, ou figuras de construção, são o subgrupo das figuras de linguagem relacionado à construção das frases – além dela, há também as figuras de palavras, figuras de pensamento e figuras de som. Por isso, elas nomeiam e sistematizam algumas das transgressões que podemos fazer às regras gramaticais da nossa língua de forma proposital.
Mas por que não escreveríamos na norma culta de propósito?
Bom, muitas vezes buscamos dar um efeito particular ao que estamos escrevendo ou criar um estilo próprio, principalmente na escrita criativa, como nas poesias e narrativas.
O que é Zeugma?
A zeugma é uma das formas pelas quais a elipse pode se manifestar. Ela ocorre quando um termo que aparece em um enunciado participa de mais enunciados de forma oculta.
A palavra “zeugma” vem do grego, “zeygma”, que significa conexão ou ligação. Esse termo se justifica pois esta figura de sintaxe promove uma conexão entre duas orações. Seu principal objetivo é o de evitar a repetição, deixando o discurso mais fluido, dinâmico.
É também uma estratégia estilística para textos literários, seja na forma de prosa ou poesia. Neste caso, pode trazer um efeito de dramaticidade ou de maior impacto à frase. Por exemplo: “Em minha mente há memórias apagadas. Em meu corpo, marcas e dor.”
Em letras de música, por sua vez, é uma tática para conferir ritmo, como faz Chico Buarque:
“O meu pai era paulista / Meu avô, pernambucano / O meu bisavô, mineiro / Meu tataravô, baiano.”
Há dois tipos de zeugma:
Zeugma simples
A zeugma simples ocorre quando o termo omitido é exatamente o mesmo empregado na oração anterior.
Exemplo: Na vida dela houve apenas dor; na dele, dor e alegria.
Aqui, subentende-se o verbo “houve”. Seria: na dele, [houve] dor e alegria.
Zeugma complexa
A zeugma complexa ocorre quando se subentende um verbo que já foi expresso, só que com outra flexão.
Exemplo: A casa era suntuosa. As janelas, de um estilo barroco.
Aqui, subentende-se o verbo “era”, mas no plural, “eram”. Ou seja: As janelas eram de um estilo barroco.
Há diferença entre zeugma e elipse?
Ainda não há consenso sobre essa questão. Alguns linguistas consideram, de fato, que a zeugma seja uma forma de elipse, por ser um tipo específico de omissão.
Contudo, há estudiosos que estabelecem diferença entre as duas figuras, uma vez que a elipse consiste na omissão de termos que não necessariamente foram mencionados anteriormente. Assim, há o subentendimento da palavra omitida. No caso da zeugma, a palavra aparece pelo menos uma vez na frase.
Observe os exemplos:
A mulher observava seu amigo; uma expressão de incredulidade no rosto dela.
Aqui, há uma elipse, pois a palavra “havia” não aparece na oração em nenhum momento. Sem a elipse, a frase seria: A mulher observava seu amigo; havia uma expressão de incredulidade no rosto dela.
Eu trabalho como escritora. Ela, como revisora.
Aqui, há uma zeugma complexa, em que o verbo “trabalhar” é suprimido na segunda frase. Sem a zeugma, ficaria: Eu trabalho como escritora. Ela trabalha como revisora.
Outros exemplos de zeugma
George Orwell escreveu “1984”. Aldous Huxley, “Admirável mundo novo”.
Animou meu coração mais do que um marca-passo [animaria].
“Nem ele entende a nós, nem nós [entendemos] a eles”. (Camões)
Outros tipos de figuras de sintaxe
- Pleonasmo
- Anacoluto
- Antecipação
- Braquilogia
- Haplologia sintática
- Contaminação sintática
- Expressão expletiva
- Assíndeto
- Polissíndeto
- Hipérbato
Referências
BECHARA, E. Moderna Gramática Portuguesa. 37 edição. Rio de Janeiro: Editora Nova fronteira, 2009.
CUNHA, C; CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. 7. Ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2017.