A epígrafe é comumente utilizada em textos literários, científicos e teses universitárias, contribuindo para o enriquecimento do conteúdo. No entanto, são poucas as pessoas que conhecem sua real função. Esse é o seu caso? Então, saiba, aqui no Gestão Educacional, o que é e como utilizar uma epígrafe.
O que é uma epígrafe?
A palavra epígrafe possui origem grega e quer dizer “escrever acima de”. Portanto, trata-se de um pequeno texto, sempre escrito em prosa ou verso, utilizado no início de um livro, capítulo ou artigo.
Esse texto sucinto é considerado um elemento de intertextualidade, ou seja, tem a ver com o conteúdo que virá a seguir ou faz menção a uma obra que o autor se inspirou ou recebeu influência.
Justamente por ser um fator intertextual, a epígrafe funciona como um elemento interpretativo do restante do texto ou da obra literária. O autor pode, por meio do texto curto, fornecer pistas ao leitor a respeito do conteúdo que está por vir.
A epígrafe também é utilizada para que o autor dê indicações sobre a melhor maneira de fazer a leitura do conteúdo. Outra intenção desse elemento de intertextualidade é esclarecer algo, como o próprio título da obra ou do capítulo.
Um dos escritores brasileiros que mais fizeram uso desse recurso foi Machado de Assis, que utilizava a epígrafe para dar pistas falsas ao leitor, numa tentativa de ludibria-lo e envolvê-lo mais na obra.
Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, por exemplo (que é considerada uma obra-prima da literatura brasileira), Machado de Assis apresenta uma epígrafe que se consagrou pela ironia:
“Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará, é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevia-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.
Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir a um prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.
Brás Cubas”
Como é possível notar, todos os elementos de intertextualidade são mencionados na epígrafe machadiana, citando outros autores e a própria obra em si. Além disso, conversa diretamente com o leitor, indicando que seria um defunto autor, informação que será retomada ainda no primeiro capítulo.
Um detalhe importante sobre a epígrafe, e que pode ser percebida no exemplo de Memórias Póstumas, é que esse recurso não é uma dedicatória, mas parte da obra, devendo ser considerada para interpretação geral.
Epígrafe em trabalhos universitários e artigos
Além de ser amplamente utilizada em obras literárias, a epígrafe também é um recurso adotado em trabalhos universitários, especialmente no TCC e em artigos científicos.
Nesse caso, a epígrafe costuma trazer uma citação de obra ou autor que influenciou o trabalho ou artigo, estando relacionada ao conteúdo que será apresentado ao leitor.
Para utilizar a epígrafe nesse tipo de conteúdo, o autor precisa cumprir normas de formatação estabelecidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que são as seguintes:
- Fonte em tamanho 10 (Arial) ou 12 (Times New Roman). O tipo de letra adotado na epígrafe pode ser diferente da versão usada no resto do conteúdo;
- Alinhamento justificado com 4cm de recuo da margem esquerda;
- Citação em itálico;
- Nome do autor entre parênteses.
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