É comum que as sociedades, em especial as capitalistas, busquem uma forma de organização da população mais homogênea, que deverá, de acordo com essa visão, procurar mais ou menos os mesmos objetivos, pensando, agindo e sentindo de maneiras semelhantes.
Isso ocorre dentro de uma concepção de mundo na qual todos devem rezar pela mesma cartilha e pelos mesmos costumes e valores que, no fim das contas, não fogem muito entre si.
Essa uniformização dos padrões pode ser vista claramente no campo ideológico, após a vitória do capitalismo sobre o socialismo, com a queda da União Soviética e a derrocada dos governos socialistas em várias partes do mundo.
Venceu o discurso denominado à época neoliberal, que tinha no discurso de “fim da história”, do economista e filósofo estadunidense Francis Fukuyama, a tese de que a história havia terminado com a vitória do capitalismo e que, dali em diante, esse sistema iria prevalecer dominante para todo o sempre.
Hoje já se sabe que as coisas não funcionam bem assim e o próprio pensador já rechaça a sua concepção monolítica. Porém, para cada tentativa de homogeneizar o pensamento e as formas de vida da humanidade, costumam surgir movimentos contrários, que apresentam diferentes desejos, metas e vontades nem sempre de acordo com o que foi estabelecido pela sociedade. Um desses movimentos é o da contracultura, que começou questionando o “American way of life” dos EUA, e hoje é usado em várias questões.
O que é contracultura?
A contracultura é um movimento que passou a questionar os padrões de vida dos estadunidenses, entre os anos 1950, 1960 e 1970, e depois se estendeu para outras localidades do mundo.
Mas, para entender tal conceito, é necessário compreender o momento histórico dos EUA, que vivia um período de forte crescimento, impulsionado pela corrida armamentista com a União Soviética, no período da Guerra Fria, em que as duas maiores potências rivalizavam e também temiam uma a outra. O incremento tecnológico fez melhorar a vida de muitas pessoas, em um período em que cada vez mais indivíduos deixavam o campo rumo às cidades e aos subúrbios.
Outro ponto positivo é o da educação que se desenvolve e permite que os jovens possam ter mais tempo para estudar. Contudo, essa massa juvenil beneficiada por esse momento é que conseguiria aprimorar-se intelectualmente e passaria a questionar a forma de vida do país, a cultura e os valores, pautados apenas na acumulação de bens e riquezas e no consumo.
Orivaldo Leme Biaggi coloca no Estudo sobre a Contracultura e sua Influência na Publicidade Brasileira (1965-1977) que a contracultura demonstrou, naquela época, quatro manifestações características:
- Desvalorização do racionalismo a partir de rebeliões de estudantes contra o sistema de ensino;
- Recusa ao estilo de vida estadunidense, preferindo um modo mais errático e menos compromissado;
- Pacifismo, direcionado contra as grandes potências imperialistas da época – URSS e EUA;
- Hedonismo, a partir da valorização do corpo e das próprias emoções, manifestado na chamada revolução sexual e seu conceito de amor livre e no uso de drogas psicotrópicas.
Formação e exemplos
O primeiro grupo que começou a desenvolver uma identidade própria e distante dos padrões até então estabelecidos foi a geração beatnik, nos anos 1950. Escritores como Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William Burroughs apresentaram suas obras inovadoras e totalmente transgressoras. Aliado a isso, o estilo de vida deles deixava clara a opção por outros caminhos, buscando cada vez mais valores diferentes, libertários, para horror da sociedade conservadora da época.
Mas, foi nos anos 1960 que a contracultura explodiu como movimento e entrou para a história. O rock, que já havia surgido na década anterior, embora mais ligado à diversão, investia em letras de protesto e em uma roupagem mais questionadora, por meio de nomes como Bob Dylan, Joan Baez e Rolling Stones. Vários movimentos artísticos também protestavam à sua maneira contra os parâmetros daquele período.
Muitos jovens se organizaram para protestar contra a Guerra Fria e seus efeitos colaterais espalhados pelo mundo com destruição e caos. Os protestos durante o ano de 1968, que explodiram em várias partes do mundo, com destaque para EUA e França, também faz parte do movimento da contracultura.
Nesse cenário, surge outro exemplo de personagens pertencentes ao movimento da contracultura. Trata-se dos hippies, jovens que viviam em comunidades, usavam roupas coloridas, tinham cabelos compridos e pregavam o amor livre e a vida pacífica entre os indivíduos. Não à toa, seu lema era “paz e amor”.
No Brasil, podemos citar manifestações artísticas como representativas da contracultura, tais como o Cinema Novo e também o Tropicalismo, que abarcava música, artes plásticas, cinema, teatro. Esses movimentos, também característicos dos anos 1960, continham uma crítica social e política ao momento do país, que vivia sob a Ditadura Militar, e pregavam outras formas de cultura.
Mais recentemente, observamos o movimento hip hop, em especial nas periferias urbanas brasileiras. Com uma batida pesada e letras com rimas repletas de críticas sociais, muitos jovens, em especial negros, utilizam o gênero estadunidense desde os anos 1980 para falar sobre o dia a dia miserável e violento que têm de encarar diariamente.