Faz parte da história da humanidade o confronto entre seres humanos, rivalizando populações, territórios, culturas, valores, tradições, religiões, etc. Há vários registros de conflitos e guerras que proporcionaram uma nova organização dos espaços, da política e até mesmo de aspectos culturais.
Esse processo sempre acaba levando à morte de pessoas, representando a supressão de determinados povos para a sobrevivência de outros. E, às vezes, não é apenas a população que se vai durante um conflito, mas também a sua história, a sua memória e a sua cultura.
Para entender um pouco mais sobre essas questões, vamos abordar, a seguir, de forma mais aprofundada o genocídio e o etnocídio.
O que é genocídio e etnocídio?
Genocídio e etnocídio são palavras que se relacionam dentro de um mesmo assunto. No entanto, elas possuem significados distintos. O genocídio diz respeito ao ato de provocar um assassinato em massa de uma população, visando a eliminação de um grupo ou de uma etnia.
Já o etnocídio vai além da matança e está calcado na busca incessante do opressor em apagar quaisquer traços de existência do oprimido. Dentro desse conceito, o intento é destruir qualquer lembrança daquele povo, bem como símbolos, valores, língua, crenças, religião, obras de arte que sejam representativas daquela cultura, entre outros.
Vale ressaltar que o etnocídio pode ocorrer de forma não planejada, a partir do processo de aculturação causado pelo domínio de um povo sobre o outro, que pode acabar prejudicando costumes, tradições e crenças gestados pela população afetada.
Genocídio e etnocídio x Tese do descobrimento
Há vários exemplos de genocídio e etnocídio ao longo da história humana. Um caso muito próximo a nós foi produzido durante a conquista da América Latina a partir do século XVI, quando europeus invadiram o continente em busca de riquezas e escravizaram e mataram milhões de índios, além de trazer negros da África para também serem escravizados e mortos para o benefício do “homem branco”.
Ao contrário do relato europeu de que fora um “descobrimento”, essa “visita” aparentemente sem querer, que proporcionou a “descoberta” do Novo Mundo, foi de fato um verdadeiro massacre dos povos autóctones.
Como explica Waldir José Rampinelli, no artigo Um genocídio, um etnocídio e um memoricidio praticados contra os povos latino-americanos, esse processo não buscou apenas tomar o território e expropriar a terra e as suas riquezas, mas também procurou exterminar vários grupos e destruir as culturas locais.
Isso se deu, por exemplo, pela implementação da religião católica nos índios por parte dos jesuítas, que buscaram apagar da memória dos índios os seus deuses, as suas curas e as suas tradições religiosas para venerar um Deus da cultura ocidental. A substituição da língua nativa pelos idiomas europeus é outro exemplo.
Nesse mesmo texto, o autor cita o filósofo búlgaro Tzvetan Todorov, que afirma que essa invasão foi um genocídio de fato e salientou que nenhuma das outras matanças do século XX tinham equivalência ao que ocorreu no século XVI. O resultado disso é que há pouquíssimas populações indígenas pelo continente e boa parte de sua rica história e cultura foram dizimadas juntamente com os índios.
Exemplos pelo mundo
Um exemplo de genocídio e etnocídio pelo mundo é o que ocorreu com o povo armênio no começo do século XX. Durante a Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano – que hoje corresponde à Turquia – sofreu uma grande derrota para as forças russas. Mas, os armênios foram considerados os culpados pelos otomanos, pois muitos dos armênios atuaram de forma voluntária no exército da Rússia, por sonhar com uma possível independência de sua nação.
Então, sob a desculpa de que eram traidores, os armênios foram expulsos de suas casas, tiveram os seus bens expropriados e cerca de 1,5 milhão foram mortos, em um dos maiores massacres de um só povo na História. A memória e o conhecimento armênios foram destruídos pelo povo otomano, provocando não apenas o genocídio, mas também o etnocídio. A Turquia não reconhece esse crime até os dias de hoje.
O Holocausto também é considerado um crime de genocídio e etnocídio. Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo nazista alemão perseguiu o povo judeu e levou à morte de mais de 20 milhões de pessoas, sendo elas judeus, ciganos, russos, eslavos, homossexuais, deficientes, etc. É considerado pelos historiadores como um dos maiores assassinatos sistemáticos de todos os tempos.
Além da morte da população judia, o ditador alemão Adolf Hitler incentivou a destruição do patrimônio cultural e da memória das vítimas, consumando, assim, uma limpeza étnica, cuja intenção era a de varrer do mapa qualquer rastro daquele um povo, em um projeto que visava manter apenas a raça ariana, considerada “pura”.