Pragmática – O que é? Quando surgiu e Exemplos

A língua portuguesa, assim como todas as outras línguas do mundo, é articulada. Isso significa dizer que os enunciados que os falantes criam não são uma coisa só, indivisível, mas sim que eles podem ser desmembrados em unidades menores.

Nesse sentido, uma oração é um conjunto de palavras, uma palavra é um conjunto de morfemas e os morfemas são um conjunto de sons. Há áreas na linguística responsáveis pelo estudo de cada uma dessas relações.

Esses estudos, entretanto, preocupam-se com fatores linguísticos, ou seja, fatores da própria língua. Mas, como veremos, o sentido das mensagens não é construído apenas com esses fatores. Outros são levados em consideração: os extralinguísticos. Esses são da competência do estudo da pragmática!

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Pragmática

O que é pragmática?

A pragmática é a área da linguística responsável por estudar a linguagem no contexto de sua utilização. O foco de estudo dela, portanto, é a prática linguística, ou seja, a linguagem em seu uso concreto.

A pragmática leva em consideração o significado das palavras em uso, o contexto e o papel dos interlocutores na construção do discurso. Durante o ato comunicativo, as palavras podem ser empregadas de maneira diferente do que prescreve as normas gramaticais e com significados diferentes daqueles indicados pela semântica.

Por exemplo, a pergunta: “não vamos tomar banho de sol hoje?” pode ter mais de um significado, dependendo do contexto. Numa praia, pode significar deitar na areia para ganhar um bronzeado. Já no contexto de uma prisão, o significado poderia ser o de simplesmente sair da cela para passar um tempo no pátio.

Os interlocutores compreenderão o significado dependendo do contexto em que estão inseridos, além de outros fatores, como a entonação, a gesticulação, etc.

Pragmática

Quando a pragmática surgiu?

A pragmática é uma disciplina recente. Como comenta o linguista Rodolfo Ilari, em verbete ao Glossário Ceale, a pragmática surgiu por meio dos trabalhos do filósofo americano Peter Grice, em meados da década de sessenta, opondo-se à crença estabelecida na época de que bastava uma boa interpretação do sentindo das sentenças para se alcançar o sentido delas.

Ilari destaca o questionamento que Grice fez em relação ao fato de que a frase “ele tem boa caligrafia e nunca foi preso”, numa carta de recomendação para um professor universitário, poder significar “ele não serve”, embora não seja apresentado nada de ruim a respeito do candidato.

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No caminho entre essas duas frases, o avaliador julgou as qualidades atribuídas ao professor como irrelevantes para a vaga em questão e, não tendo mais nenhuma qualidade apresentada, concluiu que o candidato era inapto ao cargo.

Essa reflexão foi rapidamente relacionada aos estudos realizados por Charles Morris, em 1938, que já havia feito uso do termo, identificando na língua três perspectivas para o estudo da linguagem: uma perspectiva sintática, uma semântica e uma pragmática, responsável por estudar a relação entre os interlocutores no uso da linguagem.

Dessa maneira, o conteúdo das mensagens não pode ser interpretado sem se levar em consideração os fatores extralinguísticos, ou seja, o contexto, o papel dos interlocutores, a entonação empregada na mensagem, as expressões faciais, os gestos, etc.

Pragmática

Exemplos de como os fatores extralinguísticos influenciam no sentido

Observemos os exemplos abaixo, retirados do Manual de Semântica, de Márcia Cançado (2015, p. 18-19).

  • Você quer um milhão de dólares sem fazer nada?
  1. Não!!! (responde o interlocutor, com uma entonação e uma expressão facial que significam: claro que quero!).

Esse exemplo (1) ilustra bem como entonação e gesticulação podem interferir e alterar completamente o significado de uma sentença. Se não tivéssemos detalhes de como a frase foi proferida, tampouco contássemos com o uso das exclamações. Dando ênfase ao pronunciado, poderíamos, por mais estranho que pudesse ser a resposta, interpretar que o sujeito (b) realmente não deseja ganhar um milhão de dólares sem fazer nada.

  • A porta está aberta.

Já com esse exemplo (2), podemos notar a importância do contexto e a relação dos interlocutores na construção do sentido. Pegando a oração da maneira como nos foi apresentada, sem um background (plano de fundo, ou seja, sem detalhes da situação), a interpretação mais óbvia é a de que uma porta, seja ela como for, está aberta, ou seja, não está fechada ou trancada.

Agora, se usarmos o background apresentado por Cançado (2015, p.19), ou seja, o de um professor dando aula, que percebe um estudante do lado de fora, parado, receoso de entrar e atrapalhar a aula, levando o professor a dizer, amigavelmente, a oração (2), o sentido dela passa a ser o de um convite amigável para que o estudante entre.

Agora, se o contexto for, como também apresenta a linguista, o de um estudante agitado e baderneiro, bagunçando a aula desse mesmo professor, levando-o a proferir a mesma sentença (2), com um tom de voz mais inflamado, o sentido passa a ser o de uma ordem, ou seja, um convite repreensivo para que o estudante saia.

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