A desigualdade e a distribuição de renda são temas sempre em debate entre acadêmicos, especialistas e políticos, especialmente no Brasil, um país marcadamente desigual, em que muitos possuem tão pouco e poucos concentram grande parte da renda e da terra brasileira.
O problema é conseguir medir essa desigualdade socioeconômica e o quanto cada país distribui as riquezas que produz. Criar mecanismos que possam quantificar os níveis de desigualdade e de distribuição é fundamental, inclusive, para orientar os países na formulação de suas políticas públicas, pois, com uma diretriz, é possível saber o que e para quem fazer, objetivando melhorar os índices.
Pensando nisso, o matemático italiano Conrado Gini (1884 – 1965) criou o coeficiente de Gini. Este é apenas um dos métodos existentes para fazer esse tipo de medição, que será explicado em mais detalhes a partir de agora.
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O que é Coeficiente de Gini?
Publicado em 1912, na obra Variabilitá e Mutabilitá, pelo estatístico italiano, o coeficiente é muito usado para realizar o cálculo da desigualdade da distribuição de renda, mas também pode ser aplicado para qualquer outra distribuição, como concentração de riqueza, de terra e demais tipos.
Isso é considerado importante por muitos especialistas, pois o índice contribui na compreensão dos graus de desigualdades dos países. Isso porque, quanto maior a concentração de renda, maior é a desigualdade. E a desigualdade de renda é fundamental para determinar os níveis de pobreza de uma sociedade, já que a primeira está relacionada com as desigualdades sociais.
Como funciona o Gini?
O Gini varia de 0 a 1, sendo 0 equivalente à completa igualdade na renda, isto é, todos possuem os mesmos rendimentos, e 1 correspondente a uma completa desigualdade, quando uma pessoa detém toda a renda e as demais não têm nada.
Ou seja, quanto mais perto de 0, mais próximo da igualdade está um país. O coeficiente de Gini, em geral, compara os 20% mais pobres com os 30% mais ricos.
Vale dizer que o coeficiente de Gini foi desenvolvido tendo como base a curva de Lorenz. O manual Entendendo o Índice de Gini, do governo do Estado do Ceará, explica que a curva de Lorenz evidencia como a proporção acumulada de renda pode variar em função da proporção acumulada da população.
Essa curva é utilizada como forma de conseguir identificar o quanto os dados levantados podem indicar ou não que aquele país, por exemplo, possui uma maior ou menor desigualdade de renda.
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Vantagens e desvantagens do Coeficiente de Gini
Apesar de ser um índice bastante usado por especialistas para medir a desigualdade no mundo, o coeficiente de Gini é questionado por muitos e tem algumas desvantagens apontadas.
Por um lado, ele oferece um cálculo mensurável com relação à distribuição de renda, que também é de fácil interpretação, possibilitando uma melhor comparação entre diferentes áreas e territórios dentro de um espaço geográfico, como uma análise comparativa sobre a área urbana e rural de uma cidade.
Contudo, as críticas ao coeficiente de Gini apontam que o índice mede a desigualdade de renda apenas em termos estáticos, isto é, não relaciona a questão da desigualdade à da oportunidade. Outro ponto questionável é que ele não permitiria exatamente a produção da distribuição de renda, podendo gerar distorções durante generalizações ou comparações entre nações e rendas muito díspares.
Isso imputa aos pesquisadores uma análise cuidadosa quanto ao uso do Gini para analisar a desigualdade de renda, em especial devendo ser levado em conta o contexto ao qual o índice está sendo aplicado. U
m exemplo disso é se um país possui um ótimo coeficiente de Gini, porém, oferece poucas oportunidades aos mais pobres. Isso evidencia que, apesar do índice mostrar uma menor desigualdade de renda, não parece haver uma justiça social econômica que garanta oportunidades de crescimento e mobilidade social a todos.
Conclusão
Mesmo com suas imperfeições, o coeficiente Gini é um importante indicador para auxiliar na aferição da distribuição de renda nos países, pois de nada adianta uma nação apresentar índices robustos de crescimento se a renda não é distribuída para os seus atores sociais.
Com esse índice em mãos, um governo pode elaborar políticas públicas que equilibrem os números e possibilitem que os mais pobres tenham condições de superar as barreiras sociais e econômicas e alcançar uma melhor renda por meio do emprego e do acesso à educação, por exemplo.