Alguns tipos de pronomes não possuem acentuação tônica. A esses pronomes dá-se o nome pronomes átonos, e a posição deles na oração varia bastante, obedecendo determinadas regras pré-estabelecidas.
Neste artigo do Gestão Educacional, veremos justamente quais são as regras de colocação dos pronomes átonos da língua portuguesa. Confira!
O que são pronomes átonos?
Os pronomes oblíquos átonos são, como o nome sugere, tipos de pronomes que não possuem acentuação tônica. E é justamente por não possuírem tonicidade que a posição deles varia bastante na oração, pois dependem da posição e da tonicidade de outros termos.
Por regra, os pronomes oblíquos átonos nunca são precedidos por preposições, diferente dos pronomes oblíquos tônicos, que possuem tonicidade e são, sim, acompanhados por preposições. Veja a comparação:
(1) Responderei a ti no momento certo.
(2) Responder-te-ei no momento certo.
Em (1), o pronome em negrito é tônico e precedido por uma preposição, tratando-se de um pronome oblíquo tônico. Neste caso, ele está desempenhando a função de objeto indireto.
Por outro lado, em (2), o pronome em destaque não tem tonicidade, sendo uma partícula átona, que nesse caso se juntou ao verbo “responder” na forma de mesóclise. Isso porque, no futuro do presente, como no exemplo em questão, o pronome oblíquo átono geralmente fica na posição de mesóclise, como veremos adiante.
Caso queira se aprofundar um pouco mais no assunto dos pronomes oblíquos átonos e tônicos, confira este nosso outro artigo, destinado aos pronomes pessoais.
Próclise, ênclise e mesóclise
Compreendido o que são pronomes átonos, vejamos o nome que se dá às posições que eles podem ocupar.
Quando o pronome átono aparece antes do verbo com o qual se relaciona, diz-se que o pronome está “proclítico”, ocorrendo, portanto, o fenômeno da próclise.
Já quando ele está depois do verbo com o qual se relaciona, diz-se que ele está “enclítico”, ocorrendo, portanto, o fenômeno da ênclise.
Por fim, quando o pronome átono está no meio do verbo, o que só ocorre no futuro do presente e no futuro do pretérito, diz-se que ele está “mesoclítico”, ocorrendo o fenômeno da mesóclise.
Confira um exemplo de cada, para visualizar melhor:
(3) Quem me ligou ontem à noite? (Próclise);
(4) Tranquei-me no quarto por uma hora (Ênclise);
(5) Ouvir–me–ão quando eu me rebelar (Mesóclise).
As motivações da mudança da posição do pronome oblíquo átono geralmente se dão por questões relacionadas à eufonia, ou seja, à emissão de fonemas de forma que soem de maneira agradável ao ouvido.
Regras de colocação pronominal
Vejamos, agora, quais são as regras do português brasileiro em se tratando da colocação dos pronomes átonos na oração.
Próclise
Opta-se pela próclise, ou seja, por colocar o pronome átono antes do verbo, nos seguintes contextos:
- Em orações com palavras negativas (tais como: “não, nunca, jamais, ninguém, nada etc.) quando não há pausa entre elas e o verbo, pois estas palavras atraem o pronome átono, inclusive em se tratando de locuções verbais:
- Por que não me esperou?
- Não se pode esperar muito mais (“pode esperar” = locução verbal).
- Em orações iniciadas com pronomes/advérbios interrogativos, inclusive em se tratando de locuções verbais:
- Quem te encontrou?
- Que me podia acontecer? (“podia acontecer” = locução verbal)
- Em orações iniciadas por palavras exclamativas, inclusive em se tratando de locuções verbais:
- Que Deus te ajude!
- Como te hei de amar! (“hei de amar” = locução verbal).
- Em orações optativas, ou seja, que exprimem desejo, inclusive em se tratando de locuções verbais:
- Espero que o seu filho te encontre;
- Tu me hás de curar! (“hás de curar” = locução verbal).
- Em orações subordinadas desenvolvidas, ou seja, iniciadas por conjunção integrante e com o verbo flexionado, inclusive em se tratando de locuções verbais:
- A professora pediu à turma que me ajudassem.
- O médico que me vai operar é muito bom (“vai operar” = locução verbal).
- Em orações com gerúndio regido pela preposição “em”:
- Em se falando de gênios da humanidade, é correto incluir Leonardo da Vinci na lista.
- Com infinitivos soltos, embora geralmente se prefira a ênclise:
- Arrume uma corda para me resgatar.
- Quando o verbo vem antecedido por alguns advérbios (tais como: “bem, mal, ainda, já, sempre, só, talvez” etc.) ou expressões adverbiais e não há pausa separando o verbo dos elementos mencionados:
- Só me acorde quando for nove horas da manhã.
- Em orações alternativas, ou seja, que expressam alternância de fatos ou escolhas:
- Catarina, ora se entristecia, ora se alegrava ante a presença de Miguel.
- Quando o verbo está no futuro do presente ou no futuro do pretérito, embora também possa se optar pela mesóclise:
- Eu me afastarei dela o quanto antes.
- Com pronomes e advérbios indefinidos, desde que não haja pausa entre eles e o verbo:
- Aqui se faz, aqui se paga.
- Em alguns casos de locuções verbais envolvendo o particípio passado, pois o pronome átono nunca pode vir depois dele:
- Independente do que se tenha passado, você deve focar no futuro.
Ênclise
Opta-se pela ênclise, ou seja, por colocar o pronome átono depois do verbo, nos seguintes contextos:
- Quando o verbo iniciar a oração ou o período, pois o pronome jamais pode ficar na primeira posição (com exceção de orações intercaladas, que podem resultar tanto em próclise quanto em ênclise):
- Ordeno-lhes que cessem o ataque;
- Criei-te como um filho, dei-te tudo o que precisaste;
- A lua é amarela, disse-me minha mãe, porque é feita de queijo (Oração intercalada);
- A lua é amarela, me disse minha mãe, porque é feita de queijo (Oração intercalada).
- Quando o sujeito, na forma de substantivo ou pronome, vier imediatamente antes do verbo, tanto na forma afirmativa, quanto na interrogativa, com exceção da negativa:
- Ele jogou-se na cama e dormiu.
- Com infinitivos soltos, embora também se possa utilizar na forma proclítica, mesmo quando a oração possui palavras negativas:
- Para não feri–la, optei por abandoná–la.
- Em casos de infinitivo regido pela preposição “a” e com o pronome nas formas “o” ou “a”:
- Se soubesse de suas intenções, não continuaria a escutá–la.
- Quando há uma pausa entre algum elemento que possa causar a próclise e o verbo:
- Aqui, mantem-se a casa organizada o tempo inteiro (Pronomes e advérbios indefinidos tendem a atrair o pronome oblíquo; porém, como ocorreu uma pausa após ele, o pronome ficou em posição enclítica).
- Em orações coordenadas sindéticas, ou seja, orações ligadas por meio de conectivos, Segundo Rocha Lima (1996, p. 451), embora Cunha & Cintra (p. 327) apontem que as orações coordenadas sindéticas alternativas resultem na próclise:
- Amam-se ou magoam-se? (o primeiro pronome átono ficou na posição enclítica por não poder ficar no início do período; o segundo, entretanto, ficou por se tratar de uma oração coordenada sindética alternativa).
Rocha Lima (1996, p. 451) menciona, entretanto, que, com exceção da primeira regra, ou seja, do pronome oblíquo átono jamais poder iniciar um período, todas as demais são passíveis de exceções. Essas exceções são motivadas muito provavelmente por questões de eufonia.
Mesóclise
Opta-se pela mesóclise, ou seja, por colocar o pronome átono no meio do verbo, nos seguintes contextos:
- Em orações em que o verbo esteja no futuro do presente:
- Roubar–te–ei o coração, minha querida!
- Em orações em que o verbo esteja no futuro do pretérito:
- Roubar–te–ia o coração, minha querida, não fosse o nosso amor impossível.
Caso especial
Não há ênclise nem próclise nem mesóclise quando o particípio vem desacompanhado de um verbo auxiliar. Nesse caso, faz-se uso da forma oblíqua tônica, regida obrigatoriamente por uma preposição. Veja:
- Entregue a mim a carta, o carteiro retirou-se.