Compreender os vários processos de formação de palavras de uma língua é importante. Dentre os vários processos de formação da língua portuguesa, este artigo tratará de um bem simples: a derivação imprópria. Você certamente já fez uso desse tipo de processo e talvez nem tenha se dado conta disso.
Apesar de ser fácil de compreender, é preciso atenção para não confundir com os demais processos e saber todos os detalhes a respeito dele. Confira isso e muito mais aqui, no Gestão Educacional!
O que é derivação?
De forma simples e direta, derivação é o nome que se dá ao processo linguístico em que palavras se formam a partir de outras palavras. Ou seja, palavras derivam de outras palavras, daí o nome, derivação. Nesse processo, certos elementos são incluídos na palavra, alterando o sentido dela (mas sem apagar o sentido principal, relacionado à palavra original).
São vários os tipos de derivação: prefixal, sufixal, parassintética, regressiva e, mais recente no estudo da língua portuguesa, a imprópria. É justamente dessa última que trataremos neste artigo.
O estudo da derivação e da composição (outro processo de formação de palavras) está dentro do estudo da formação e da estrutura das palavras, cuja área da linguística responsável é a morfologia.
O que é derivação imprópria?
Como comentado, a presença da derivação imprópria nos estudos da morfologia é relativamente recente. O gramático Rocha Lima, por exemplo, na versão de 1996 de sua Gramática Normativa da Língua Portuguesa, não incluíra a derivação imprópria dentre os possíveis processos de formação de uma palavra. Teóricos mais recentes, como Cunha & Cintra a incluem.
A derivação imprópria é uma das mais simples de se compreender. Basicamente, nela ocorre a mudança de classe de uma palavra sem que a palavra em questão sofra qualquer tipo de alteração em sua forma, que permanece inalterada.
Uma das principais maneiras de se realizar uma derivação imprópria é acrescentando um artigo (o/os, a/as; um/uns, uma/umas) antes de qualquer vocábulo da língua portuguesa. Observe o exemplo:
- (1) Andar —> (2) O andar.
Em (1), a palavra em questão é um verbo, na sua forma do infinitivo. Ao se acrescentar o artigo definido “o” antes dele, em (2), o vocábulo “andar” passou a ser um substantivo masculino, fazendo referência, ainda, à ação de andar, ou seja, não perdendo totalmente o sentido da forma original.
Esse processo poderia ser repetido com qualquer outro verbo da língua portuguesa e o resultado seria o mesmo: um substantivo derivado de um verbo pelo acréscimo de um artigo.
Fácil, não é? A única dificuldade da derivação imprópria é conhecer as várias maneiras pelas quais ela pode ocorrer, uma vez que não se limita apenas a esse exemplo citado. Vejamos cada uma das maneiras e que classes de palavras podem ser formadas pela derivação imprópria a seguir.
Que mudanças de classe ocorrem (e como ocorrem) na derivação imprópria?
Os processos de troca de classes de palavras pela derivação imprópria são os seguintes (CUNHA, 2017, p. 118, adaptado):
- Substantivos próprios — para — substantivos comuns: MacAdam (responsável pelo desenvolvimento de um processo de pavimentação) -> macadame (processo de pavimentação de ruas e estradas);
- Substantivos comuns — para — substantivos próprios: coelho (animal) -> Coelho (sobrenome);
- Adjetivos — para — substantivos: capital (como em “pecado capital”) -> capital (de um país);
- Substantivos — para — adjetivos: burro (animal) -> burro (pessoa pouco inteligente);
- Substantivos, adjetivos e verbos — para — interjeições: bravo (enfurecido) -> bravo! (expressão de admiração, satisfação);
- Verbos — para — substantivos: jantar (verbo) -> o jantar (nome da refeição diária noturna);
- Verbos e advérbios — para — conjunções: quer (verbo) -> quer X, quer Y… (conjunção);
- Verbos no particípio (presente e passado) — para — preposições: salvo (verbo) -> salvo o capítulo X, o livro é bom (preposição);
- Verbos no particípio passado a substantivos e adjetivos: resoluto (verbo) -> o problema resoluto (adjetivo).