A Escola dos Annales surgiu na França, a partir de um periódico acadêmico fundado em 1929 pelos historiadores Marc Bloch e Lucien Febvre. Essa corrente trouxe inovações ao campo da história, em oposição à história narrativa (e política) então predominante. Uma dessas inovações é a chamada história problema, ou seja, a pesquisa histórica precisa responder um problema, uma pergunta que vai nortear o trabalho do historiador.
Também ampliaram as possibilidades, trabalhando com diversas fontes históricas, ao contrário dos historicistas, que procuravam trabalhar apenas com fontes escritas. Para eles, a história não era vista como uma simples sequência de acontecimentos, e seu real conhecimento só seria possível por uma série de mudanças no fazer histórico.
O início da escola dos Annales
A história passou a ser vista como ciência a partir do século XVIII, e desde então o fazer histórico sofreu uma grande evolução. Aos poucos, a historiografia passou por modificações metodológicas que lhe permitiram um maior conhecimento do passado, incorporando novos tipos de fontes de pesquisa. Ainda assim, a historiografia do início do século XX ainda era fortemente baseada em uma história narrativa, muito mais preocupada com os grandes feitos, grandes homens e com as datas dos eventos, sem se aprofundar nas questões estruturais e conjunturais.
Em 1929, dois historiadores que lecionavam na Universidade de Estrasburgo, Marc Bloch e Lucien Febvre, fundaram um periódico, o Annales d’histoire economic e sociale, cujos textos quebravam com a tradição da história narrativa e sua ênfase na política e nas guerras, e apresentavam uma série de inovações ao campo histórico. Não só eles, mas os outros colaboradores do periódico também seguiam a mesma linha.
Uma dessas inovações era a interdisciplinaridade, ou seja, o diálogo com outras disciplinas, tais como Filosofia, Economia, Geografia e Sociologia, como forma de adquirir um conhecimento mais amplo. Com o tempo, o Annales deixou de ser apenas um periódico para se tornar um movimento historiográfico, por isso é conhecido como Escola dos Annales.
Ideias e fundamentos
Ainda que o estudo dessa corrente historiográfica seja complexo, de forma geral, é possível resumir as principais ideias defendidas pelos membros dos Annales, apresentadas a seguir:
- História-problema: para os membros da Escola dos Annales, a pesquisa histórica precisa responder um problema, uma pergunta que vai nortear todo o trabalho do historiador, ao invés de apenas narrar os fatos da forma como eles aconteceram;
- Amplo uso de fontes: ao contrário do costume de utilizar apenas fontes escritas, os historiadores dos Annales trabalham com um leque muito mais amplo quando se trata de fontes históricas, por exemplo, vestígios arqueológicos;
- Interdisciplinaridade: os Annales dialogavam com várias disciplinas, tais como Filosofia, Economia, Geografia e Sociologia, como forma de adquirir um conhecimento mais amplo e significativo das sociedades;
- Longa Duração: caracteriza-se pelo estudo de fenômenos extremamente longos, tais como evolução das paisagens, história do homem e das sociedades, entendidas dentro de um contexto próprio;
- História das Mentalidades: privilegia o estudo sobre os modos de pensar e sentir dos indivíduos de uma época, as condições objetivas da vida dos homens e a maneira como eles a narram e vivem;
- História Cultural: ocupa-se com a pesquisa e representação de determinada cultura em dado período e lugar.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Marc Bloch, que era judeu, participa da resistência francesa. Capturado pelas forças nazistas, foi fuzilado em 16 de junho de 1944.
Grandes nomes dos Annales
A partir de 1946, Fernand Braudel, discípulo de Lucien Febvre, passa a ser o responsável pela direção do periódico. Com ele, os Annales ganham fama, passando a exercer enorme influência na escrita da História na França e em outros países a partir de então. Por sua monumental obra, O Mediterrâneo, Braudel inaugura o conceito de Longa Duração.
Após Fernand Braudel, outros historiadores de renome, como Georges Duby, Jacques Le Goff, Marc Ferro, Pierre Chaunu, Pierre Nora, Emmanuel Le Roy Ladurie e Jacques Revel, entre outros, fizeram parte da Escola dos Annales.