Ainda que a história e o dia a dia revelem o quanto os seres humanos podem cometer maldades contra o próximo, há um outro lado muito praticado e incentivado na sociedade que é o da solidariedade. Seja pela religião, seja pelos padrões sociais, somos impelidos a desenvolvermos nossa capacidade de sermos generosos, empáticos e ajudarmos o outro. Seres sociais que somos, temos na interação e na reciprocidade características comuns que miram o bem acima de qualquer coisa.
O desenvolvimento dessas qualidades nos faz sermos indivíduos melhores, além de transformarmos positivamente o lugar que vivemos. Essa concepção altruísta de enxergar o mundo e carregada de empatia e amor está no cerne da filantropia, expressão que vamos tratar nesse artigo.
O que é filantropia?
Ao buscar a origem da palavra, temos como significado expresso o termo “amor à humanidade” e também “grande generosidade para com as outras pessoas”. A filantropia se coloca, então, em uma visão diametralmente oposta à expressão misantropia, que corresponde a uma aversão aos seres humanos e à sua natureza.
Do ponto de vista histórico, o termo filantropia servia para sintetizar os atos de caridade religiosa que eram realizados por padres e membros de igrejas. Recentemente, o seu sentido foi ampliado e abrange também qualquer ato de benevolência realizado por sujeitos ou instituições em relação a pessoas que necessitam.
Há muitas associações e organizações que desenvolvem projetos solidários e empregam tempo e recursos para o bem-estar de muitas pessoas excluídas da sociedade, tudo isso sem pedir nada em troca.
“A filantropia, no Brasil também conhecida como ‘investimento social privado’, é geralmente definida como o ‘direcionamento de recursos privados para fins sociais’. Ela geralmente exclui ajuda do governo, e subvenções ou doações governamentais; portanto, as fontes de filantropia geralmente são categorizadas em indivíduos, fundações ou empresas”, explica o texto Filantropia: contexto atual – questões, atores e instrumentos, do IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social).
Importância da filantropia
A filantropia é muito importante do ponto de vista social e econômico, se levarmos em conta o fato principalmente de vivermos em um mundo desigual e injusto, em que muitas pessoas estão apartadas da sociedade, sem acesso a serviços básicos e sem oportunidades para conseguirem se emancipar. Dessa forma, oferecer ajuda nesse contexto pode até mesmo transformar uma vida.
Além disso, especialistas na área afirmam que atos generosos e de empatia podem também promover um círculo virtuoso e que traz benefícios não só para quem recebe o auxílio, mas para quem ajuda, bem como para toda a sociedade.
Outra forma que demonstra a importância do impacto dessas ações solidárias pode ser vista em números. Estudo da universidade estadunidense John Hopkins revela que, entre 2002 e 2010, as doações filantrópicas atingiram 2,3% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil. Como comparação, o Bolsa Família representou 0,4% do PIB, ainda que ambos sejam coisas totalmente distintas e este último esteja atrelado a uma política pública que incentiva a criança a estar na escola. Fora do país, esse processo se acentua, pois, é mais comum os cidadãos, inclusive empresários, fazerem doações mais duradouras. Em média, as famílias dos EUA doam anualmente 3 mil dólares, além das fundações, com 57 bilhões de dólares, e das empresas, que doam cerca de 19 bilhões de dólares.
Reflexões sobre a filantropia
Contudo, há críticos que fazem diversas ressalvas em relação à filantropia, especialmente aquela praticada pelas empresas, mas que também sobra para o governo. Primeiramente, em um sentido mais geral, a ação de instituições e fundações seria parte de uma estratégia de tirar a responsabilidade do Estado em desenvolver as políticas públicas que faça com que as pessoas não precisem de ajuda privada.
Em um segundo momento, observa-se que muitas companhias se utilizam da filantropia como ação de marketing, de forma a aumentar os seus negócios e gerar lucro, mesmo que indiretamente. Nesse caso, podemos destacar que a filantropia está mais relacionada à responsabilidade social corporativa, que é quando uma empresa adota comportamentos e atitudes de forma voluntária, visando o bem-estar de seus funcionários, acionistas, mas também de sua comunidade, parceiros etc.
“Nem só preocupações humanitárias levam os empresários a investir no social. Fazer o bem também compensa economicamente: melhora a relação da empresa com seus parceiros, cada vez mais interessados em empresas responsáveis social e ecologicamente e, melhora a imagem junto aos consumidores. A atual competitividade do mercado exige que as empresas apresentem novos diferenciais, sendo que a imagem de socialmente responsáveis é uma oportunidade para entrarem em mercados restritos e atingir novos nichos mercadológicos”, destaca o texto Bondade ou interesse? Como e porque as empresas atuam no social, do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Conclusão
Nós vimos neste artigo o impacto das ações filantrópicas na sociedade e a importância que elas possuem nas pessoas mais necessitadas. O denominado terceiro setor movimenta bilhões e é uma forma de mitigar os problemas de um país quando o Estado não os consegue solucionar. No entanto, é preciso tomar cuidado e saber diferenciar os gestos solidários de ações orquestradas que visam mais dar visibilidade a empresas ou a atores do que ajudar o próximo.