Futurismo é o nome de um movimento literário e artístico que surgiu no ano de 1909, sendo uma das grandes Vanguardas artísticas da Europa do século XX.
Seu surgimento se deve ao poeta italiano Filippo Marinetti, que publicou o primeiro Manifesto Futurista no jornal francês El Fígaro.
Resumo do movimento futurista
O futurismo buscava retratar em suas criações uma impressão de movimento, isto é, uma retratação da velocidade. Em outras palavras, as expressões artísticas usavam técnicas, linguagens e mesmo histórias que tentassem manifestar aspectos futurísticos.
Suas ideias estavam relacionadas com aquilo que norteava o desenvolvimento desse movimento, por exemplo, a valorização da tecnologia e o rompimento com o arcaico passado.
Na publicação do Manifesto (veja aqui na íntegra) que deu origem oficial ao movimento, nas palavras de Marinetti, publicadas em 1909 no jornal francês Le Figaro, ele mesmo descreve quais seriam as intenções dessa nova expressão artística ainda sem saber qual seria a proporção que tomaria:
Nós destruiremos os museus, bibliotecas, academias de todo tipo, lutaremos contra o moralismo, feminismo, toda cobardice oportunista ou utilitária.
Nós cantaremos as grandes multidões excitadas pelo trabalho, pelo prazer, e pelo tumulto; nós cantaremos a canção das marés de revolução, multicoloridas e polifônicas nas modernas capitais; nós cantaremos o vibrante fervor noturno de arsenais e estaleiros em chamas com violentas luas elétricas; estações de trem cobiçosas que devoram serpentes emplumadas de fumaça; fábricas pendem em nuvens por linhas tortas de suas fumaças; pontes que transpõem rios, como ginastas gigantes, lampejando no sol com um brilho de facas; navios a vapor aventureiros que fungam o horizonte; locomotivas de peito largo cujas rodas atravessam os trilhos como o casco de enormes cavalos de aço freados por tubulações; e o vôo macio de aviões cujos propulsores tagarelam no vento como faixas e parecem aplaudir como um público entusiasmado.”
O futurismo se originou graças às transformações geradas pela Revolução Industrial. Os artistas futuristas viram a necessidade de se libertar da tradição cultural e dos vestígios deixados pela dominação da burguesia dos séculos anteriores.
Devido a tudo isso, o futurismo superou o renome das vanguardas francesas e se tornou uma moda para os adversários modernistas que já tentavam se apropriar de modelos mais avançados, o que, de certa forma, acabava sendo contracultural.
Até a Primeira Guerra Mundial, o futurismo se consolidou como um movimento de importância no cenário poético da modernidade, tendo caráter polêmico de militância para os seus principais defensores, afinal, dava conta de uma temática que ainda não era abordada em sua época: a de pensar como seriam as estéticas das gerações futuras.
Pintura futurista
A pintura futurista acabou incorporando elementos do Expressionismo e do Abstracionismo, por meio da expressões de estados de espíritos e emoções, bem como da retratação de objetos não identificáveis.
As características da arte se assemelham bastante ao abstrato, com elementos desconstruídos. Além disso, também é comum o uso de cores vivas e cheias de contrastes, com diversos tipos de tipografia.
Abaixo, seguem obras futuristas de artistas que aderiram ao movimento:
Tullio Crali (1910 – 2000)
Giacomo Balla (1871-1958)
Umberto Boccioni (1882-1916)
Enrico Prampolini (1894-1956)
Carlo Carrá (1881-1966)
Gino Severini (19883-1966)
Literatura futurista
Na literatura, a proposta futurista é muito clara. No manifesto, estimula-se: o extermínio da sintaxe com substantivos dispostos ao acaso; o emprego de verbos no infinitivo e o desprezo à pontuação. Foi assim que surgiram as poesias com versos livres, o que ajudava a exaltar o modo de vida moderno, veloz e dinâmico.
Nos versos de Oswald de Andrade, no poema A Dona Branca Clara, pode-se ver como a falta de pontuação e a presença de versos livres são empregados na literatura futurista:
A Dona Branca Clara
Tome-se duas dúzias de beijocas
Acrescente-se uma dose de manteiga do Desejo
Adicione-se três gramas de polvilho do Ciúme
Deite-se quatro colheres de açúcar da Melancolia
Coloque-se dois ovos
Agite-se com o braço da Fatalidade
E dê de duas horas em duas horas marcadas
No relógio de um ponteiro só!
Nos versos de Fernando Pessoa, em seu heterônimo Álvares de Campos, também há uma fase futurista, como se pode ver nos seguintes versos:
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos,
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Cinema futurista
O movimento futurista demorou para chegar ao cinema, com cerca de sete anos de diferença. Nessa modalidade da arte, o movimento italiano garantiu o uso de inovação na linguagem cinematográfica com cenas mais curtas, sugestividade musical e vários dramas geométricos, com imagens cheias de alto contrastes – o que depois ajudaria a construir o Expressionismo alemão.
Tais características podem ser visualizado no filme Metrópolis (1927), de Fritz Lang’s, no qual uma mulher é transformada em um robô e, por conta disso, é forçada a viver sob essa nova forma.
A arte futurista no Brasil
No Brasil, o futurismo começa a ser reconhecido pouco antes da guerra de 1914, por influentes de seu tempo, como Oswald de Andrade, o qual tentava representar em suas obras ideias bem-humoradas e que se distanciavam do modelo tradicional francês incorporado ao país antes de se ter uma ligação bastante forte com a Semana de Arte Moderna de 1922.
Os pensamentos do movimento – como o rompimento com o passado – serviram de guia para os ideais de muitos outros artistas brasileiros, como é o caso do já citado Oswald de Andrade e Anita Malfatti.
Para Oswald de Andrade, o Brasil tinha a capacidade de criar sua própria identidade, sem precisar copiar as ideias europeias. Isso é notável no desenvolvimento da produção nacional de obras futuristas sem qualquer cópia do padrão existente na Europa.
Importância do Futurismo
O futurismo foi um importante movimento por conta da sua relevância acerca de alguns conceitos, entre os quais se destacam: o mito do progresso, a ideia evolucionista da arte, a concepção positiva do desenvolvimento técnico e a própria percepção da efemeridade da vida.
Para o Brasil, o futurismo foi bastante importante para outro movimento: o Modernismo. Os futuristas mostraram, por meio de seus escritos, que se deve parar de olhar para atrás, pois isso seria sinônimo de atraso e primitivismo.
Características do Futurismo
O futurismo valorizava o desenvolvimento tecnológico e industrial. Por isso, é voltado para o mundo urbano e industrial.
Outras características marcantes são:
- Uso de tecnologias modernas e construtivas;
- Emprego de novos materiais, como vidro, ferro e concreto armado;
- Expressão do movimento real;
- Desvalorização do moralismo e da tradição;
- Defesa de uma ligação entre o mundo moderno e as artes plásticas;
- Utilização de onomatopeias nas poesias;
- Utilização de frases fragmentadas nas poesias, com o intuito de passar a ideia de velocidade;
- Pinturas caracterizadas com o uso de cores vivas e contrastantes;
- Sobreposição de imagens, pequenas deformações e traços nas pinturas, para passar a ideia de movimento e dinamismo;
- Multiplicação de linhas e detalhes;
- Linhas oblíquas ou elípticas que favorecem volumes arrojados;
- Arquitetura funcionalista e racional.
O principal meio de comunicação do futurismo foi a propaganda, principalmente pela aplicação da tipografia, em que os textos são utilizados para explorar o lúdico, as onomatopeias e a linguagem vernácula.
A própria inspiração para os efeitos e as cores é proveniente do pós-impressionismo. As técnicas Cubistas também são evidentes nas composições futuristas.
Principais artistas e obras do Futurismo
Os principais artistas que representaram o Futurismo nas mais diversas áreas são:
- Carlos Carrá – também italiano;
- Enrico Prampolini – cenógrafo, pintor e escultor italiano;
- Fortunato Depero – pintor, escritor, escultor e designer gráfico italiano;
- Giacomo Balla – pintor italiano e um dos expoentes do movimento futurista no país;
- Gino Severini – pintor, artista gráfico e escultor italiano;
- Luigi Russolo – compositor e pintor italiano;
- Nikolay Diulgheroff – artista, designer e arquiteto búlgaro;
- Umberto Boccioni – pintor e escultor italiano, sendo considerado o mais importante teórico e expoente do movimento futurista.
Já na área da literatura destacam-se:
- Émile Verhaeren – poeta belga;
- Fernando Pessoa – poeta e escritor português;
- Filippo Marinetti (o responsável pelo primeiro Manifesto Futurista) – escritor, editor e poeta italiano;
- Joan Salvat-Papasseit – poeta espanhol.
Já de obras desses artistas, as que mais ganham reconhecimento por sua representação plena do movimento futurista são:
- Arranha-Céus e Túneis (1930) – Fortunato Depero;
- Carga dos Lanceiros (1915) – Umberto Boccioni;
- Desagregação Mecânica (1922) – Nikolay Diulgheroff;
- O Cavaleiro Vermelho (1913) – Carlos Carrá;
- O Dinamismo de um Automóvel (1913) – Luigi Russolo;
- Retrato de Marinette (1925) – Enrico Prampolini;
- Velocidade do Automível (1913) – Giacomo Balla.
Outra fato curioso da influencia desse movimento no Brasil é a sua expressão também na arquitetura, com nomes de peso, como Oscar Niemeyer. A arquitetura futurística proporciona mais sustentabilidade às cidades, conservando áreas verdes e ampliando a utilização de placas solares. Isso se deve justamente pela aplicação de materiais como o vidro e metal, que ajudam no reflexo do ambiente ao redor da estrutura.