As primeiras décadas do período republicano brasileiro foram marcadas por inúmeras revoltas, ocasionadas por vários motivos diferentes. Uma dessas revoltas ficou conhecida como a “Guerra do Contestado”.
Esse conflito, que durou entre 1912 a 1916, colocou em oposição posseiros e pequenos proprietários de terras, de um lado, e forças dos governos estadual e federal, do outro.
Os antecedentes da Guerra
A construção de uma estrada de ferro que ligaria São Paulo ao Rio Grande do Sul causou sérios problemas para várias pessoas que viviam na região, sobretudo dos posseiros, que tiveram suas terras desapropriadas, e de vários pequenos fazendeiros que viviam da extração da madeira e que passaram a ter seu negócio prejudicado.
A Brazil Railway Company, companhia responsável pela construção da ferrovia, que cruzava os Estados do Paraná e de Santa Catarina, ao precisar de mão de obra, acabou levando muitas pessoas para trabalhar na região. Com a conclusão da linha férrea, milhares de trabalhadores permaneceram no local, mas sem emprego e sem apoio algum, juntando-se ao grande número de pessoas afetadas pela construção.
Dados esses fatores, os problemas sociais decorrentes foram potencializados pelo fato de que a presença do poder público na região era muito pequena, favorecendo um possível conflito.
Além disso, surgiu entre os camponeses revoltados uma espécie de fanatismo religioso, influenciado por um homem chamado José Maria do Santo Agostinho (acredita-se que fosse, na verdade, um soldado desertor, de nome Miguel Lucena de Boaventura), o que aumentou a crença de que se tratava de uma guerra santa, levando boa parte daquela população à luta.
As primeiras comunidades
Ouvindo os conselhos de José Maria, a massa de desempregados se juntou em uma comunidade que contestava a posse das terras desapropriadas. Aos poucos, vários fazendeiros da região, que haviam perdido as terras, foram se unindo ao grupo. Em pouco tempo, uma milícia armada foi formada.
O “monge” José Maria criticava abertamente o governo republicano, fundando uma espécie de governo independente na comunidade, ao mesmo tempo que outros povoados foram criados. Alertado por autoridades locais, o Governo Federal resolver agir.
Início da Guerra do Contestado
Ao saber da aproximação de tropas federais, José Maria reúne seus homens e parte para Irani, uma pequena localidade no Paraná, mas são interceptadas pelo Regimento de segurança daquele estado.
O primeiro confronto acontece no dia 22 de outubro de 1912, resultando na morte de 12 camponeses, entre eles o próprio José Maria. O grupo foge para Caraguatá (atual Lebon Régis, Santa Catarina), uma região de difícil acesso.
Após a morte de José Maria, surge a figura de Maria Rosa, uma garota de apenas 15 anos, que dizia receber mensagens de José Maria diretamente do plano espiritual, assumindo o comando do grupo.
Até 1915, os conflitos são esporádicos, com a vantagem pendendo ora para as tropas do governo, ora para os rebeldes. Mas, em 1915, o governo decidiu acabar com a revolta de uma vez por todas.
Final do conflito
Uma numerosa tropa, tendo à frente, em um primeiro momento, o General Carlos Francisco de Mesquita, veterano da Guerra de Canudos, e depois o General Setembrino de Carvalho, marchou para a região para dar combate aos revoltosos.
Em março de 1915, parte das tropas chega ao município de Santa Maria, onde são atacados pelos rebeldes. Após violentos combates, as tropas federais saem vitoriosas. A líder dos rebeldes, Maria Rosa, foi uma das vítimas do combate.
Agora na defensiva, os rebeldes vão recuando, pois, além de enfrentarem uma tropa mais numerosa e mais preparada, precisavam enfrentar também a fome.
Em dezembro de 1915, o último grande reduto rebelde foi destruído. O último líder do grupo, um homem chamado Adeodato, conseguiu fugir com um pequeno punhado de homens e só seria capturado em agosto de 1916. Sua prisão marca o fim da Guerra do Contestado.
Consequências da Guerra do Contestado
Estima-se que mais de 10.000 pessoas tenham morrido no conflito, a grande maioria, rebeldes. O conflito serviu para pôr fim a uma disputa territorial entre os Estados do Paraná e Santa Catarina, que tiveram suas divisas definidas. O fim do conflito, porém, não trouxe paz à região, que continuou sendo um foco de contestação e revoltas.