O Modernismo é um dos movimentos de arte mais conhecidos no Brasil, isso porque teve grande impacto na cultura nacional da época. A transformação fundamental do movimento foi a ruptura com o passado e busca pela nacionalidade em todas as formas de arte, valorizando mais as raízes brasileiras do que a cultura dominante europeia que imperava sobre todo o mundo, sobretudo na América Latina.
Em qual contexto histórico surgiu o modernismo no Brasil?
O movimento modernista no Brasil foi liderado por um grupo de artistas e amigos denominados O Clube dos 5, não coincidentemente composto por autores de diversas modalidades da arte nacional, são eles: Anitta Malfatti, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade e Oswald de Andrade.
Esses artistas que já tinham experiência no modo tradicional da produção artística se desafiaram a buscar algo diferente do que já era produzido em todo mundo.
O que queriam de diferente era algo que retratasse a realidade de onde vinham e não de onde estudaram, nas escolas europeias, sobretudo de Paris – na época, o polo cultural do mundo (tal como hoje é os Estados Unidos).
Uma das primeiras obras modernistas foi a de Anitta Malfatti, na pintura, e de Mário de Andrade na literatura brasileira. Juntos, os Clube dos 5 artistas se reuniram para criar a Semana de Arte Moderna de 1922, evento que lançou oficialmente o movimento ao público nacional e internacional.
O evento aconteceu no Teatro Municipal de São Paulo, entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, contando com várias expressões de arte modernista: dança, música, poesia, pintura, escultura e palestras.
Como objetivo, os artistas envolvidos propunham uma nova arte, a qual aliasse a estética e técnicas das vanguardas europeias com retratos da brasilidade.
Como disse o também modernista Di Cavalcante:
seria uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulista”.
A previsão do artista foi cumprida. Ao término daquela semana a história da arte estaria marcada para sempre, já que o modernismo rompeu de vez uma dominação cultural e eurocentrismo que atravessou gerações impondo um conceito de belo que não satisfazia as particularidades de cada povo.
O conceito de libertação foi revolucionário e influenciou vários outros artistas na América Latina e no mundo a fazer o mesmo, a exemplo de Frida Kahlo e Pablo Neruda.
Como consequência desse conceito revolucionário, o movimento garantiu mais pluralidade, diversidade e realidade a arte de todos os povos influenciados pela busca às suas próprias identidades culturais.
Quais principais características do Modernismo?
O jeito de falar e agir típico do brasileiro foi o que mais marcou as produções artísticas desse movimento, com um vocabulário repleto de linguagem coloquial e regionalidades.
As principais características desse movimento foram:
- Novas experimentações artísticas;
- Ruptura do tradicionalismo;
- Uso de uma linguagem com mais humor;
- Liberdade estética;
- Valorização do cotidiano;
- Uso de versos livres, ausência de pontuação e abandono de formas fixas;
- Valorização do cotidiano, busca de uma linguagem mais simples e regional;
- Busca por uma expressão artística nacional e inovadora.
Contexto Histórico
O movimento surge quando a população está descontente, há algum tempo, com a situação política do Brasil, principalmente pela inflação, crise populacional e grande disparidade social, causando greves e protestos.
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) também trouxe o clima de incerteza para o mundo, diante dos acontecimentos, tendo, como consequência, apresentado as vanguardas europeias ao mundo, uma série de movimentos artísticos que influenciaram o Modernismo brasileiro a buscar uma identidade nacional.
Principais autores do modernismo
- Oswald de Andrade (1890-1954)
- Mário de Andrade (1893-1945)
- Manuel Bandeira (1886-1968)
- Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
- Rachel de Queiroz (1902-2003)
- Jorge Amado (1912-2001)
- Érico Veríssimo (1905-1975)
- Graciliano Ramos (1892-1953)
- Vinícius de Moraes (1913-1980)
- Cecília Meireles (1901-1964)
- João Cabral de Melo Neto (1920-1999)
- Clarice Lispector (1920-1977)
- Guimarães Rosa (1908-1967)
Fases dos modernismo e principais obras
O Modernismo foi marcado por momentos distintos, que também são chamados de “fases” ou ” gerações”. São eles:
Primeira Fase do Modernismo (1922-1930)
Essa é a “fase heroica” do movimento, na qual os artistas procuram inspiração nas Vanguardas Europeias. É o período mais radical de todos, principalmente pela grande quantidade de publicações de revistas e protestos, além da criação de vários grupos modernistas.
A primeira fase aconteceu justamento em 1922, com a Semana da Arte Moderna. Artistas mais rebeldes buscavam uma renovação estética, na tentativa de abandonar antiga ordem, por isso essa foi a fase marcada por muitas manifestações que se alastraram pelo Brasil todo.
A primeira geração de modernistas ainda viu o surgimento do Partido Comunista e do Partido Democrático.
Revistas da primeira fase modernista
- Klaxon (1922);
- Estética (1924);
- A Revista (1925);
- Terra Roxa e Outras Terras (1927);
- Revista de Antropofagia (1928).
Os manifestos também são marcados pelo Manifesto Antropófago (1928) e Manifesto Regionalista (1926), assim como o Movimento Pau Brasil e o Movimento Antropofágico.
Autores da primeira fase do modernismo
Os principais nomes da primeira fase do Modernismo no Brasil são:
- Mário de Andrade;
- Oswald de Andrade;
- Manuel Bandeira;
- Alcântara Machado.
As principais poesias que se destacaram na primeira fase são: Pronominais (Oswald de Andrade):
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
Também ficou conhecida a obra Erro de Português (Oswald de Andrade):
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena! Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
Segunda Fase do Modernismo (1930-1945)
Conhecida como a “Fase de Consolidação” ou “Fase de 30”, esse é o momento no qual temas como o nacionalismo e o regionalismo tomam conta da prosa.
Esse foi o momento em que a luta ficou mais madura e muitas obras essenciais para a literatura brasileira foram criadas, em especial no âmbito da poesia, em que foram colocados em pauta assuntos sobre a existência humana e uma análise dos sentimentos e das angústias sociais.
Na prosa, os temas abordavam a dura realidade brasileira e uma grande reflexão dos problemas sociais em todas as regiões, em especial no nordeste do país.
Grandes nomes entram no cenário nacional, como Graciliano Ramos (1892-1953), com “Memórias do Cárcere”, registro de lembranças de quando foi preso, acusado de ser comunista. Porém, o escritor ganha proporção com “Vidas Secas”, obra na qual narra a história de uma família de retirantes do nordeste, retratando a seca e a pobreza local.
Rachel de Queiroz (1910-2003) foi outra representando do movimento e primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras, merecendo destaque pela sua obra “O Quinze”, na qual a seca do nordeste do país e as dificuldades que a acompanham são descritas.
José Lins do Rego (1901-1957), também parte da Academia Brasileira de Letras, ganha destaque por seus romances regionalistas “Menino de Engenho”, “Fogo Morto” e “Usina”.
Talvez um dos nomes mais conhecidos do Modernismo brasileiro seja Jorge Amado (1912-2001), escritor baiano de obras como “Gabriela”, “Capitães da Areia” e “Tieta do Agreste”.
Érico Veríssimo (1905-1975) é o representante da cultura gaúcha, ganhando reconhecimento pela trilogia “O Tempo e o Vento”, além de livros como “Fantoches” e “Clarissa”.
Autores da segunda geração modernista
Outros grandes nomes da segunda geração do Modernismo no Brasil são:
- Cecília Meireles;
- Carlos Drummond de Andrade;
- Érico Veríssimo;
- Rachel de Queiroz;
- José Lins do Rego;
- Graciliano Ramos;
- Vinícius de Moraes.
Principais poesias da segunda fase modernista
Retrato (Cecília Meireles)
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou perdida
A minha face?
Também é característica No meio do Caminho (Carlos Drummond de Andrade).
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedraNunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.
Principais prosas da segunda fase modernista
- Vidas Secas (Graciliano Ramos),
- O País do Carnaval (Jorge Amado),
- Menino do Engenho (José Lins do Rego),
- Capitães de Areia (Jorge Amado),
- O Quinze (Rachel de Queiróz).
Terceira Fase do Modernismo
Chamada também de “Pós-modernismo”, ainda não há um tempo determinado para seu término. Muitos dizem que foi nos anos 60, outros nos anos 80, e há quem diga que ainda permanece ativo até os dias atuais.
O país passou por grandes mudanças sociais, com um novo cenário político, acontecendo o mesmo também no campo artístico. Nesse momento, há a mistura entre a prosa urbana, intimista e regionalista, com uma abordagem mais psicológica e introspectiva.
Clarice Lispector (1922-1977) é um dos principais nomes dessa etapa do movimento, tendo como características marcantes o lirismo e a literatura intimista. Suas principais obras são “Perto do Coração Selvagem”, “A Hora da Estrela” e “A Cidade Sitiada”.
Conhecido pelo capricho na ordem de suas obras, João Cabral de Melo Neto (1920-1999), também chamado de “poeta engenheiro”, ganha notoriedade por “Morte e Vida Severina”.
João Guimarães Rosa (1908-1967) tem em suas obras a temática frequente do sertão, com suas principais obras “Sagarana” e “Grande Sertão: Veredas”.
Ariano Suassuna (1927-2014) também é um dos maiores escritores brasileiros dessa fase e ganha destaque por “O Auto da Compadecida”, “O Santo e a Porca” e “Os Homens de Barro”.
Autores da terceira geração modernista
- Mário Quintana;
- João Guimarães Rosa;
- João Cabral de Melo Neto;
- Ariano Suassuna;
- Clarice Lispector;
- Lygia Fagundes Telles.
Obras que se destacaram nessa geração são: Morte e Vida Severina (João Cabral de Melo Neto) e o Poeminha do Contra (Mário Quintana).
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!
Prosas da terceira geração
- A cidade sitiada (Clarice Lispector),
- Grande Sertão (Guimarães Rosa),
- Primeiras Estórias (Guimarães Rosa),
- A hora da Estrela (Clarice Lispector).
Obras modernistas brasileiras
Por fim, considerando sua influência e contexto histórico pode-se concluir que o modernismo no Brasil foi um movimento de luta em prol da independência cultural do país, cujo objetivo era valorizar a vida cotidiana do povo, em especial a sua linguagem.