O multiculturalismo como conhecemos hoje precisa ser levado em conta no contexto da globalização, que permitiu a aproximação das pessoas por meio do desenvolvimento das tecnologias, seja elas da informação, sejam de transportes, que abreviaram distâncias. Novas e complexas redes foram criadas, todas interdependentes, com uma economia multinacional e que não se limitava mais às barreiras das tradicionais fronteiras.
Nesse cenário, a cultura passou a sofrer vários processos diferentes de produção e consumo, passando desde a homogeneização fundamentada na cultura hegemônica estadunidense, até mesmo a um reforço das culturas locais, tradicionais. Tudo isso acabou gerando um universo de grande variedade cultural.
Para entender como se dá esse processo, vamos conhecer melhor o multiculturalismo, suas características e seus desafios, aqui, no Gestão Educacional!
O que é o multiculturalismo?
Em linhas gerais, o multiculturalismo se relaciona, tanto do ponto de vista acadêmico quanto das políticas institucionais, com as questões levantadas pelo surgimento das sociedades multiculturais. Essas nada mais são do que sociedades que abrigam, em um mesmo local, povos de origens culturais diferentes.
Vale dizer que a aceitação entre esses diversos grupos pode variar desde a tolerância até o conflito aberto, passando até mesmo por rejeição. Tudo vai depender de como a cultura dominante se impõe entre as demais, além das políticas públicas definidas pelo Estado e até mesmo a formação histórica daquele território.
O fato é que a convivência entre culturas não é algo recente, mas se intensificou bastante nas últimas décadas, devido a muitas mudanças ocorridas no mundo atual.
A principal delas é o fenômeno da globalização. Por um lado, esse ideário propagou uma forma única de ver o mundo, em que prevalece o Capitalismo neoliberal, a democracia liberal e todos os seus valores decorrentes, incluindo uma cultura massificada e um modo de vida ocidentalizado e “americanizado”, que passou a atingir todos os cantos do planeta.
Por outro lado, várias culturas tradicionais se fortaleceram na luta para evitar justamente essa homogeneização cultural advinda do Ocidente. Isto é, apesar dessa massificação cultural, muitas comunidades locais conseguem desenvolver sua própria cultura, até mesmo se apropriando de pedaços da cultura hegemônica, produzindo algo novo e original. O rap e o funk brasileiros são alguns exemplos disso.
Características do multiculturalismo
Essa capacidade de pegar algo da cultura de massa ou de qualquer cultura e criar uma coisa nova é, inclusive, uma de suas principais características. Outro ponto é que o multiculturalismo nivela e não discrimina, pois não sofre barreiras de desconhecimento e preconceito, já que acaba fazendo justamente o caminho inverso, o da integração.
Isso porque, o multiculturalismo não renega qualquer cultura, pelo contrário, admite o convívio de todas elas e acredita que todas podem contribuir para o nascimento de novas expressões culturais. Não à toa, muitos consideram o multiculturalismo uma espécie de antídoto em relação ao eurocentrismo e ao imperialismo cultural estadunidense.
Os desafios do multiculturalismo
Apesar de ter aumentado a sua importância neste novo século, o multiculturalismo ainda tem alguns desafios pela frente. Em primeiro lugar, é preciso superar as críticas recebidas do ponto de vista teórico. Uma das principais é a ideia de que para que esse conceito possa prosperar é necessário que as identidades culturais devam deixar de existir isoladamente.
O problema é que isso pode levar muitas culturas históricas a perderem sua essência, tirando sua originalidade e podendo causar justamente o que o multiculturalismo tenta combater: a homogeneização das culturas. Outra crítica que alguns destacam é que esse fenômeno não prevê uma integração de fato das culturas, mas o domínio de algumas em relação a outras.
Há desafios também no campo prático. Embora muitos países democráticos tenham buscado aceitar e incorporar culturas distintas em seus territórios, outros negam direitos sociais e perseguem as minorias culturais. Em alguns casos, ainda que exista uma política pública favorável a esse processo, o que ocorre no dia a dia é a perseguição feita por indivíduos comuns, organizados ou não, inflamados por um nacionalismo doente que rejeita o outro.
Fica a lição proporcionada pela Bolívia, um Estado que historicamente maltratou seus antepassados indígenas, porém, recentemente, voltou suas políticas públicas para essa população. E mais do que isso, levou a pluralidade de culturas para dentro do estado.
A nova Constituição do país sul-americano, aprovada em 2009, ampliou consideravelmente os direitos a diversas etnias, valorizando suas culturas, e mudou até mesmo o próprio nome do país, passando a se chamar Estado Plurinacional da Bolívia, evidenciando o caráter radical das mudanças em prol desses povos originários. Tudo graças a um movimento que começou com a eleição de Evo Morales, eleito em 2006 o primeiro presidente de ascendência indígena do país.