Karl Marx, filósofo e escritor alemão, é considerado um dos maiores pensadores do século XIX. Ao longo de sua vida, elaborou inúmeras ideias e criou vários conceitos, muitos dos quais em voga ainda hoje.
O fetichismo da mercadoria é um dos mais complexos e difíceis conceitos pensados por Marx. Aliado à ideia de alienação, o fetichismo é essencial para entender a obra de Marx como um todo.
O que é fetichismo?
O termo fetiche se refere a um objeto animado ou inanimado, produzido de forma natural ou artificialmente, e ao qual se atribui determinados poderes ou certas características, e que pode ser objeto de culto (por exemplo, um crucifixo).
Essa é ideia básica do conceito, que é aplicado por Marx dentro de uma lógica de mercado: a mercadoria adquire poderes ou características que vão além daquelas próprias a ela mesma.
Antes de entender mais a fundo a ideia de fetichismo, é preciso pensar em outro conceito de igual importância, a ideia de alienação, pois os dois termos caminham juntos.
Conceito de alienação
Para Marx, as relações de produção eram marcadas pela alienação dos trabalhadores. O trabalhador, em uma linha de produção, não domina todas as etapas de fabricação, a não ser aquela na qual está diretamente envolvido. Ao não dominar todas as etapas de produção, acaba não se reconhecendo no produto produzido. É como se o produto surgisse independente daquele que o produz.
Para ilustrar melhor, imagine um produto artesanal no qual o produtor atuou em todas as etapas. Ao observar o resultado final, o produtor identifica cada detalhe, cada técnica empregada e cada esforço inerente a elas despendido.
Diferentemente da produção artesanal, a mercadoria produzida em uma indústria não possibilita, na maior parte das vezes, o reconhecimento do produtor, que enxerga no produto final “propriedades mágicas”, como se este tivesse adquirido vida própria. A alienação do trabalho é o que possibilita o fetichismo da mercadoria.
Fetichismo da mercadoria: o que significa?
Tendo em vista o conceito de alienação, imaginemos o seguinte exemplo: você entra em uma loja para comprar um calçado. Após olhar alguns modelos, opta por comprar um tênis de uma marca mundialmente conhecida. Aquele produto foi feito especificamente para uma determinada finalidade (praticar corrida, por exemplo), e você o comprou, mesmo não pretendendo utilizá-lo para tal finalidade (afinal, você não corre).
O que chamou sua atenção, provavelmente, foi a marca daquele produto, e todos os valores que o acompanham (status, moda, preço, estética ou por que é a marca que patrocina seu artista preferido ou seu time de futebol).
De modo geral, isso é o fetichismo, ou seja, as mercadorias deixam de ser um produto estritamente humano para tornarem-se objeto de adoração, e, para além de sua utilidade, passam a ter um valor simbólico, quase que divino.
Segundo Marx, isso se dá porque a mercadoria, quando finalizada, não mantém o seu valor real de venda determinado pela quantidade de trabalho utilizada na produção, mas adquiri uma valoração de venda irreal e infundada, como se não tivesse relação com o trabalho e ganhasse vida própria.
Trata-se de uma relação social entre pessoas, mas mediada por coisas, tendo como resultado a aparência de uma relação direta entre as coisas e não entre as pessoas.
O Capital
Marx apresentou o conceito de fetichismo naquela que é considerada sua obra prima: O Capital. Escrita em 1867, após 16 anos de trabalho, a obra traz um estudo profundo acerca dos mecanismos de funcionamento do capitalismo, analisando seu processo de produção e circulação, e abordando, além do fetichismo, conceitos como a mais-valia e acumulação primitiva.
Quando Marx morreu, somente o primeiro volume (de um total de quatro) havia sido publicado. Coube a Engels organizar e publicar o segundo e o terceiro volumes. O quarto volume só seria publicado em 1905, por Karl Kautsky.
Outros autores
Uma vez que Marx não trabalhou o conceito para além de sua formulação inicial, outros pensadores, ao longo do século XX, se debruçaram para explorar e melhor compreender o assunto, tais como o filósofo italiano Antonio Negri, o filósofo alemão Theodor Adorno, que leva o conceito para o campo da arte, sobretudo na música e no cinema, e o filósofo francês Guy Debord, que aborda o tema em sua obra A Sociedade do Espetáculo.