Não é de hoje que a relação entre a origem social dos estudantes e os resultados escolares obtidos por eles é tema de pesquisas. Em 1966, por exemplo, um estudo do sociólogo norte-americano James Samuel Coleman (1926-1995) concluiu que as variações de desempenho de alunos americanos eram explicadas muito mais pelas variáveis socioeconômicas de suas famílias que pelas características das escolas que frequentavam. Apesar de completar 50 anos em 2016, a análise feita por Coleman continua relevante e proporciona diversas reflexões. É com base nessa e em outras pesquisas sobre o tema que João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto (IAB) e coautor do livro Educação baseada em evidências: como saber o que funciona em educação (IAB), declara: a renda e o nível educacional dos pais são fatores importantes para atestar as pesquisas, mas há muito mais por trás dessa questão. “A organização da família, seu clima afetivo, a socialização linguística e a aquisição de atitudes e motivações desde cedo são alguns dos mecanismos intrafamiliares relacionados ao sucesso escolar. Nos trabalhos pioneiros na área, as conclusões indicavam certo determinismo social e cultural. Partiam da concepção de que os conhecimentos aprendidos pelas crianças nas escolas são estruturados a favor de certo ‘padrão’ de comportamento, tipicamente mais desenvolvido em famílias de classes média e alta. Isso explicaria por que as crianças das classes populares fracassavam mais na escola”, aponta Oliveira.
Seguindo essa linha de raciocínio, Eric Jensen, autor do livro Teaching with Poverty in Mind – What Being Poor Does to Kid’s Brains and What Schools Can Do about It (Ensinando com a pobreza em mente – o que o fato de ser pobre faz com os cérebros das crianças e o que as escolas podem fazer a respeito, em tradução livre, pois o livro ainda não foi publicado no Brasil), acredita que uma infância vivida na pobreza geralmente cria o cenário para uma vida de reveses. “Ambientes estáveis, tão importantes para o desenvolvimento social e emocional das crianças, são comumente negados para as crianças que mais precisam. Elas vivenciam mais estresse devido à solidão, à agressividade, ao isolamento nas relações com seus pares, e são mais propensas a se sentirem inferiores, envergonhadas, além de vítimas de bullying”, afirma.
Evidências
Entre 2001 e 2007, os norte-americanos Karl L. Alexander, Doris R. Entwisle e Linda S. Olson realizaram duas pesquisas relacionadas ao tema e descobriram que as diferenças nos resultados acadêmicos entre grupos sociais aumentam durante os primeiros anos do ensino fundamental, mostrando o peso da origem familiar. Além disso, quando os investigadores acompanharam uma amostra de estudantes ao longo do tempo, verificaram que a diferença nos resultados cresce principalmente nos momentos em que o aluno fica fora da escola. João Batista Oliveira explica: “Durante o ano escolar, os ganhos de conhecimento entre grupos de estudantes de alto e de baixo nível socioeconômico são comparáveis. A diferença aumenta durante as férias de verão, quando as crianças estão fora da escola. As crianças de nível socioeconômico mais alto, em média, apresentam ganhos significativos, enquanto nas de baixo nível socioeconômico, em média, não há ganhos. Essas evidências sugerem caminhos para políticas de apoio às crianças de camadas populares durante os períodos de férias escolares”, considera.
No livro Educação baseada em evidências: como saber o que funciona em educação, os autores citam alguns estudos com foco no efeito de programas extracurriculares, na extensão da jornada escolar e nas parcerias com instituições nos resultados dos alunos. De acordo com a obra, esses programas estão relacionados principalmente com aspectos não cognitivos, como engajamento, sentimento de pertencimento, autoestima e expectativas de sucesso. “Isso tem efeitos na diminuição das taxas de abandono e repetência, mas potencialmente pode ter efeitos positivos sobre os resultados acadêmicos dos estudantes, especialmente entre os jovens mais vulneráveis”, avalia.