Participação das mulheres na Conjuração Baiana

Em 1798, a cidade de Salvador foi palco da Conjuração Baiana, também conhecida como Revolta dos Alfaiates. Com ideais republicanos e separatistas, a Revolução se inspirou fortemente na insurreição que levou à independência do Haiti.

Contudo, a articulação de comerciantes, intelectuais, escravizados e libertos foi violentamente reprimida a mando do governador da província da Bahia, D. Fernando José de Portugal e Castro.

Entre as 47 pessoas presas, havia três mulheres, mas não há registros de qual teria sido a participação delas na Conjuração, a não ser pela distribuição de panfletos.

Os líderes do movimento – João de Deus Nascimento, Manuel Faustino dos Santos, Lucas Dantas e Luís Gonzaga das Virgens – foram condenados à morte por decapitação, tendo seus corpos posteriormente esquartejados e expostos por Salvador. Além disso, alguns prisioneiros foram condenados ao degredo em países africanos.

Influências da Conjuração Baiana

Participação das mulheres na Conjuração Baiana
Participação das mulheres na Conjuração Baiana

Apesar da dura reação por parte do governador e das punições a mando da Coroa portuguesa, o clima na Bahia não se arrefeceu. Os ecos da Conjuração Baiana se fizeram presentes na luta contra o exército português pela Independência da Bahia no século XIX.

Isso porque a proclamação da Independência por D. Pedro I, em 7 de setembro de 1822, fez com que a violência dos militares portugueses aumentasse nas províncias brasileiras, na tentativa de reprimir os movimentos separatistas.

Na província da Bahia, as batalhas pela expulsão do exército contaram com a liderança de três mulheres que merecem destaque na historiografia brasileira. Conheça, a seguir, um pouco mais sobre cada uma delas.

Joana Angélica

Joana Angélica nasceu em Salvador, em 1761 e se tornou soror (irmã) aos 20 anos de idade. Ao entrar para o Convento da Lapa, adotou o nome de Joana Angélica de Jesus. Atuou na Ordem das Religiosas Reformadas de Nossa Senhora da Conceição por duas décadas, até ser nomeada abadessa.

Em 1822, tropas portuguesas passaram a saquear, cometer violências e até mesmo assassinatos em Salvador, após o Dia do Fico.

Quando os soldados tentaram invadir o Convento da Lapa, alegando haver rebeldes escondidos no local, Joana Angélica bloqueou a entrada. Segundo a história oral, ela teria gritado: “Para trás, bárbaros! Respeitai a casa de Deus! Só entrarão passando por cima do meu cadáver!” Contudo, não há registros ou documentos que confirmem a famosa fala da religiosa.

À época, a irmã tinha 60 anos e foi assassinada por um dos soldados, que a golpeou com sua baioneta.

Maria Felipa de Oliveira

Maria Felipa foi uma descendente de escravizados sudaneses que nasceu na Ilha de Itaparica, em data desconhecida. Não se sabe muito sobre sua história de vida, a não ser pelo fato de ter sido pescadora, marisqueira e trabalhadora braçal.

Em 1823, ela foi responsável por liderar um grupo de 200 pessoas, composto por indígenas tupinambás e tapuias, bem como por mulheres negras, na Batalha de Itaparica. Por ser uma importante rota de navegações, a Ilha de Itaparica foi palco de uma série de confrontos envolvendo as tropas lusitanas.

Considera-se que a ação de Maria Felipa foi decisiva quando, com o auxílio de homens que moravam na cidade, incendiou diversos barcos portugueses que estavam atracados na costa.

Parte de sua trajetória é narrada no livro O sargento Pedro, um romance histórico de 1910, de autoria de Xavier Marques. Maria Felipa faleceu em 1873.

Maria Quitéria

Maria Quitéria de Jesus nasceu em Feira de Santana, em 1792. Ela se tornou a primeira mulher a fazer parte dos quadros do Exército Brasileiro.

Seu pai era proprietário de uma fazenda e cabia a ela, órfã desde os 9 anos de idade, cuidar dos irmãos. De personalidade independente, Quitéria tentou convencer o pai a deixá-la se alistar para auxiliar as tropas nas batalhas pela independência. Diante da negativa, fugiu de casa e foi acolhida por sua irmã.

Em 1822, ela fingiu ser homem para se juntar às Forças Armadas contra os portugueses. Para isso, adotou o nome de seu cunhado, de quem emprestou a farda e os documentos, tornando-se o “Soldado Medeiros”. Apesar de descobrirem sua real identidade pouco tempo depois, não foi expulsa e, em vez disso, ocupou papel de destaque na tropa de Voluntários do Príncipe D. Pedro.

Chegou a receber honrarias pelos feitos em Pituba, onde apreendeu homens que estavam em uma trincheira, em fevereiro de 1823, e também por comandar mulheres que atacaram uma barca portuguesa e impediram que os soldados desembarcassem em abril do mesmo ano, na barra do Paraguaçu.

Em 2 de julho de 1823, quando o Exército Libertador finalmente chegou a Salvador, Maria Quitéria foi aclamada pelo povo como heroína.

Reparação histórica

Pouco se fala a respeito dos feitos dessas mulheres que tiveram papéis importantes na Independência da Bahia e auxiliaram na expulsão das tropas lusitanas.

Quase dois séculos se passaram desde a Independência quando a promulgação da Lei Federal nº 13.697, de 26 de julho de 2018, determinou a inscrição dos nomes de Joana Angélica de Jesus, Maria Felipa de Oliveira e Maria Quitéria de Jesus no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

Referências

“A guerra que orgulha a Bahia”. Desafios do Desenvolvimento, IPEA, ano 12, n. 85, 20 de jan. de 2016. https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=3206&catid=28&Itemid=39

“As heroínas baianas da Independência do Brasil”. Ensinar História, 2 de julho de 2021. https://ensinarhistoria.com.br/as-heroinas-baianas-da-independencia-do-brasil/

GUERRA FILHO, Sérgio A. D. O povo e a guerra: Participação das camadas populares nas lutas pela Independência do Brasil na Bahia. Dissertação (Mestrado em História Social) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2004.

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