Patrística é o nome que se dá à filosofia cristã dos três primeiros séculos, pensada e elaborada pelos primeiros teóricos da fé cristã. Essa filosofia consistia na elaboração das doutrinas do Cristianismo e na defesa da fé contra o pensamento pagão e herege. Os primeiros teóricos desse movimento ficaram conhecidos como “pais da igreja’, daí o nome Patrística.
A Patrística foi a responsável por ditar os rumos do Cristianismo e criar sua liturgia, sua disciplina e seus costumes ao longo dos primeiros séculos da doutrina, culminando no que hoje é conhecida como tradição católica.
A Patrística teve em Agostinho de Hipona um dos seus principais representantes.
Surgimento da Patrística
A Filosofia Patrística surgiu em uma época em que o Cristianismo sofreu perseguições e retaliações, e seu pensamento ainda era disperso e não homogêneo. Por conta disso, foi preciso unificar o pensamento cristão como forma de fortalecê-lo.
No início, os debates estavam focados na relação entre Cristianismo e Judaísmo, e no estabelecimento canônico do Velho Testamento. Em pouco tempo, evoluiu para buscar a consistência necessária à fé católica, por meio de doutrinas e dogmas, em um Império Romano prestes a se cristianizar.
Períodos Patrísticos
A patrística divide-se em:
- Até o ano 200: dedicou-se à defesa do Cristianismo contra seus adversários;
- Do ano 200 ao 450: surgimento dos primeiros grandes sistemas de filosofia cristã;
- Do ano 450 ao século VIII: elaboração das doutrinas já formuladas e de cunho original.
Outra forma de divisão da patrística é seguinte:
- Período ante-niceno: corresponde ao período anterior ao Concílio Ecumênico de Nicéia (324 d.C.), englobando os escritos surgidos entre o século I e início do século IV;
- Período niceno: compreende os escritos surgidos entre o início e o fim do século IV;
- Período pós-niceno: corresponde ao período compreendido entre os séculos V e VIII.
O Concílio de Nicéia, realizado em 325, foi muito importante. O objetivo dele era justamente obter um consenso entre as diversas vertentes do Cristianismo, estabelecendo questões como a natureza do messias cristão e sua relação com Deus, de forma a buscar uma padronização do ponto de partida dos trabalhos filosóficos da época.
Agostinho de Hipona
Agostinho de Hipona (354-430) foi teólogo, filósofo e considerado o principal expoente da Patrística. Foi também Bispo de Hipona e canonizado pela Igreja Católica.
Sua história é bem complexa, pois até os 32 anos de idade era resistente ao pensamento cristão, buscando diversas correntes teóricas e escolas filosóficas que dessem um sentido para a sua vida. Após a sua conversão, Agostinho se ordenou e passou a estudar a Teologia baseada na Filosofia e a combater as heresias.
Seus estudos estiveram voltados para o Maniqueísmo (a luta do bem e do mal), bem como para o Neoplatonismo. Também, desenvolveu estudos sobre os conceitos de “pecado original” e do “livre arbítrio” como forma de se livrar do mal. Agostinho buscava a fusão da fé (representada pela Igreja) e da razão (representada pela Filosofia) como forma de buscar a verdade.
Os filósofos patrísticos que vieram após Agostinho tinham à disposição toda uma base teórica bastante estruturada, que permitiu o desenvolvimento do pensamento cristão até o surgimento da Escolástica, séculos depois, que teve como principal expoente São Tomás de Aquino.
Principais obras
A importância da Filosofia Patrística está, sobretudo, no fato de que ela produziu grande parte do pensamento que daria origem a todo um sistema teológico cristão, e parte desse pensamento está contido em diversas obras que permitem ter uma boa compreensão do pensamento religioso cristão ocidental e da formulação de um pensamento racional medieval.
Entre esses materiais, podemos destacar:
- Enéadas: escrita por Plotino, essa obra totaliza 54 tratados diferentes sobre assuntos diversos, tais como ética, convívio em sociedade e questões psicológicas com uma visão cristã sustentada pela Filosofia Platônica;
- Isagoge: essa obra de Porfírio busca a Filosofia Grega para introduzir e discutir determinados aspectos da metodologia de Aristóteles, por exemplo, a chamada “Questão dos Universais”;
- Confissões: nesta obra autobiográfica, Santo Agostinho trata dos momentos de sua vida antes da conversão, em que ele se considerava completamente perdido, e nos momentos de glória que viveu após a conversão ao Cristianismo;
- Cidade de Deus: outra grande obra de Santo Agostinho que trata das heresias, da divisão entre o mundo terreno e o mundo divino, do Reino de Deus e do comportamento esperado de um cristão para chegar à plenitude da vida.