O populismo é um conceito que voltou a ficar em voga na sociedade, especialmente após a ascensão de movimentos de direita na Europa e também de grupos mais conservadores nos Estados Unidos, que proporcionaram a eleição de Donald Trump.
Outro exemplo que podemos citar é na Itália, com a vitória dos anti-imigrantes, Movimento Cinco Estrelas e da Liga, nas eleições locais. Mas, mesmo na América Latina, nos últimos anos essa palavra povoou a mente de pessoas, políticos e críticos dos governos de esquerda, casos de Hugo Chávez, na Venezuela, e de Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil.
De acordo com a ciência política, o populismo parte de um princípio no qual a sociedade se divide em dois grupos que são antagônicos. Um deles é o chamado “povo puro”, que é a nação em si, as pessoas, contra a denominada “elite corrupta”, símbolo e razão de todos os males da sociedade – conforme definição do cientista político holandês Cas Mudde, autor do livro Populism: a Very Short Introduction. Sendo assim, no populismo, a principal fonte de inspiração é o povo, elemento social agregador e homogêneo.
Como surgiu o populismo?
No populismo clássico, que durou entre 1930 e 1960 e ficou marcado pelos governos de Getúlio Vargas (no Brasil) e Juan Perón (na Argentina), as classes sociais não deveriam conflitar, havendo somente o povo, o seu líder e a sua nação – não à toa, o discurso é carregado de nacionalismo.
Assim como descreveu o historiador e cientista político Boris Fausto, o antigo populismo tinha um tripé formado pelo estado nacional desenvolvimentista, pela classe trabalhadora organizada em sindicatos e pelo apoio de uma burguesia industrial emergente, em um momento de pesada industrialização e crescimento das áreas urbanas, em especial nos países em desenvolvimento.
Esse conceito voltou às páginas de jornais e de livros acadêmicos, com a ascensão de uma esquerda latino-americana, entre os anos 1990 e 2000, marcada pela chegada à presidência de Chávez, na Venezuela, de Lula, no Brasil, de Néstor Kirchner, na Argentina, de Evo Morales, na Bolívia, e de Rafael Correa, no Equador. Então, passou-se a transpor o conceito com um acréscimo de “neo” antes da palavra.
Porém, tal conceito acabou naufragando diante da história, pois, como se viu no decorrer dos anos, os projetos desenvolvimentistas, populares (alguns mais à esquerda ou ao centro) mostraram uma frágil conexão de classes, quebrada após alguns anos de bons ventos na economia e diante de fortes denúncias de corrupção. Um ou outro caso talvez pudesse ser enquadrado no conceito de populismo, tendo na Venezuela o exemplo mais evidente.
Populismo de direita
Agora o termo populismo aprece voltar para casa. Se o pacto populista depende de uma ampla aliança entre as classes, sem a intermediação de partidos políticos e de um líder paternalista, que representasse os anseios do povo, tais considerações parecem se encaixar melhor nos dias de hoje, pois os discursos, em várias partes da Europa e mesmo no Brasil, têm indicado contra os partidos políticos, que estariam sujos debaixo e tantas denúncias e articulações feitas diretamente com setores da sociedade, sem o intermédio institucional de órgãos políticos.
Tudo isso ao mesmo tempo em que grupos tentam controlar o discurso e a direção dos movimentos políticos sob a liderança de um ou outro nome centralizador, com ênfase no nacionalismo e na proteção do país contra uma suposta invasão migratória, em um movimento considerado xenófobo por outra parte da sociedade e pelos organismos internacionais.
E muitos dos movimentos populistas, em especial os mais bem-sucedidos atualmente, estão no espectro da direita, segundo o próprio Cas Mudde. É o caso do presidente da Hungria, Viktor Orbán, do próprio Donald Trump, nos EUA, do primeiro-ministro da Polônia, Mateusz Morawiecki, do chanceler austríaco, Sebastian Kurz, da política francesa, Marine Le Pen, entre outros. E as bases do movimento são uma combinação de nacionalismo, autoritarismo e anti-imigração.
Causas da ascensão populista
Especialistas acreditam que o crescimento dos partidos populistas na Europa ocorreu, nos últimos anos, por conta de mudanças sociais profundas, como o multiculturalismo e a globalização, que integraram mais os povos e os mercados, mas foram abalroadas por crises econômicas frequentes, que reacenderam o sentimento nacionalista, despertado pelo medo do outro (hoje, o imigrante) tomar seu emprego, seu dinheiro, sua casa, etc.
Acredita-se que muito do apoio a esse tipo de discurso e prática política surgiu a partir da crise econômica de 2008, a qual muitos economistas dizem que ainda não cessou e pode se agravar ainda mais, em breve. E nessa de encontrar culpados, a globalização acabou sendo uma das culpadas, por grupos nacionalistas.
O problema do populismo é que essa centralidade governamental, característica de um líder populista, pode afetar a democracia tal qual conhecemos, pois, as decisões são muito mais focadas na relação do chefe de Estado com o povo do que no rito das eleições e dos mecanismos de controle social tradicionais, que parecem estar desgastados atualmente – ao menos para parte da sociedade.
Enquanto não se encontra uma solução à democracia burguesa, o populismo vai ocupando espaços que podem modificar completamente as formas de governo e de interação social e política.