Por mais que se tente esconder o assunto e dizer que não há preconceito e discriminação, o racismo bate à porta todos os dias e de diversas formas, não apenas no Brasil como no mundo inteiro. Fruto de uma desigualdade gritante e de séculos de dominação de uma raça sobre a outra, o racismo segue prejudicando especialmente a população negra e, consequentemente, a sociedade.
Não à toa, o tema continua sendo debatido nas ruas, na academia e na produção cultural, com músicas, livros e filmes tratando do racismo que vive dentro das estruturas sociais. Neste artigo, vamos entender um pouco como isso funciona, seus tipos, como é o racismo no Brasil e no mundo, as consequências e como combatê-lo.
O que é racismo?
Basicamente, o racismo ocorre quando há discriminação ou preconceito direto ou indireto contra pessoas ou grupos, devido à etnia ou cor da pele. Vale lembrar que enquanto o preconceito é um conceito estabelecido sem qualquer embasamento a respeito do tema, a discriminação corresponde ao ato de apartar, diferenciar ou até mesmo excluir indivíduos ou objetos.
A definição estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) na convenção internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Social também ajuda a elucidar esse conceito. Nesse tratado internacional sobre direitos humanos, consta que “toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto ou resultado anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em igualdade de condição) de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública”.
Como funciona?
O racismo se configura de diversas formas, as quais veremos as principais brevemente, abaixo:
Crime de ódio racial
Quando um sujeito ou grupo atua de forma violenta (física ou verbalmente) contra outras pessoas ou outros grupos por causa de raça, cor ou etnia. Aqui também se enquadra quando é negado o acesso básico a serviços e locais, devido aos mesmos motivos.
Racismo institucional
Este se manifesta a partir do preconceito das instituições, públicas ou privadas, do Estado e das leis, que podem promover e perpetuar a exclusão e o preconceito racial. O exemplo mais claro disso é a abordagem dos policiais contra negros e pobres da periferia de várias cidades brasileiras e a matança de negros – disparados os que mais morrem entre os jovens.
Racismo estrutural
Este tipo pode ser pouco percebido, mas é muito prejudicial e afeta bastante os negros e as demais etnias. Aqui se reúnem hábitos, práticas e comentários rotineiros que estão incorporados em nossos valores e em nossa cultura e que acabam ajudando a segregar e a discriminar os indivíduos.
O uso de palavras e expressões racistas pode ser um exemplo (“a coisa tá preta”, “denegrir” etc.), assim como eufemismos que possam gerar desconforto ao outro.
Em outro aspecto, a segregação dos negros e índios de espaços que antes eram quase que exclusivos aos brancos, como a universidade, também se enquadra no racismo estrutural, minimizado em parte nos últimos anos.
Dados no Brasil e no mundo: consequências do racismo
Os dados no Brasil e no mundo reforçam o racismo que está enraizado na sociedade e as consequências desses atos de discriminação e segregação racial. De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), os negros são os que mais sofrem com a desigualdade e violência no país e os que mais têm dificuldades para conseguir trabalho, ascender na carreira e ter um salário digno.
Por exemplo, o salário médio de um homem branco, no Brasil, em 2015, era de R$1.589,00, enquanto que os negros recebiam R$ 898,00. Pesquisa da Oxfam aponta que a igualdade salarial entre negros e brancos deve ocorrer no país apenas em 2089.
Outro dado alarmante vem do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Cerca de 70% das vítimas de homicídio são negros. Dados do Atlas da Violência de 2018 indicam que os assassinatos cresceram de 2006 a 2016, em um total de 23% entre os negros e apenas 6% entre os brancos.
Mas, no mundo também há racismo. Pesquisa feita em 13 países europeus evidenciou que países como Finlândia e Irlanda, bem desenvolvidos, estão entre os que mais registraram casos de violência física racial, segundo reportagem de O Globo. A Agência dos Direitos Fundamentais, braço da União Europeia, realizou a pesquisa com 5.803 pessoas e observou que quase um terço dos afrodescendentes na Europa já sofreu racismo.
Métodos de combate
Por tudo que foi colocado até aqui, se faz necessário que o Brasil acelere no combate ao racismo. Em primeiro lugar, a criminalização do racismo e a aplicação das leis que pode ajudar a conter o movimento racista. Mas, especialistas consideram que a educação é um ponto chave nesse processo, sendo a escola o lugar em que se debata o tema e contribua para que a cultura seja modificada ao longo dos anos, em que comportamentos e atitudes que até então são consideradas normais, sejam enquadradas como racismo e descartadas pela sociedade.
Mas, como os números mostraram, é preciso ir além e modificar as estruturas da sociedade para afetar de vez o racismo. Um dos caminhos apontados por sociólogos é pela redução da desigualdade social que assola o Brasil desde seu princípio e que tanto afeta os negros e pobres.
Por exemplo, dar condições para que todos possam melhorar de vida e ascender socialmente, ganhando salários em condições iguais aos oferecidos à população branca. Isso pode promover, inclusive, uma redução de inúmeros índices de violência contra os negros.
Se a abolição da escravidão no século XIX não rompeu todos os grilhões, que no século XXI a sociedade brasileira seja capaz de abandonar o seu triste passado e finalmente respeitar e valorizar todos os seus, independentemente de cor ou credo.