Revolta da Chibata – O que foi? Contexto, Conflito e Consequências

A Revolta da Chibata foi um motim ocorrido entre integrantes da Marinha Brasileira sediados no Rio de Janeiro, em novembro de 1910.

A revolta teve como principais causas os constantes castigos físicos que os marinheiros afrodescendentes sofriam nas mãos de oficiais brancos, além dos baixos salários e das péssimas condições de trabalho.

Contexto da Revolta

Em 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, pondo fim a anos de escravidão no Brasil. O país era o último do ocidente a abolir o regime escravagista, porém, para além da liberdade conquistada, não alterou a vida dos negros no país, tão pouco o olhar do branco sobre eles.

O preconceito contra os negros continuou forte pelos anos seguintes, inclusive dentro das forças armadas. Os marinheiros, em sua maior afrodescendentes, eram sujeitos a uma rotina exaustiva de trabalho dentro dos navios, e recebendo um salário muito inferior aos recebidos pelos oficiais, todos brancos. Além disso, os castigos físicos para marujos insubordinados, algo que havia sido abolido em todas as forças armadas no mundo, eram amplamente aplicados na Marinha Brasileira.

A Marinha brasileira estava defasada com relação aos outros países da América do Sul, o que levou o governo brasileiro a adquirir novas embarcações. Essas embarcações necessitavam de uma tropa maior para operar, mas, ao contrário, as tripulações continuaram com poucos homens, que ficaram extremamente sobrecarregados com o aumento da carga de trabalho. Insatisfeitos, e sem enxergar uma perspectiva de vida, uma parte dos marujos resolveu agir.

Início da Revolta da Chibata

Na madrugada de 22 de novembro de 1910, os marinheiros do Encouraçado “Minas Gerais” se rebelaram. O líder da rebelião era João Cândido Felisberto, um experiente marujo negro e analfabeto, que estava na marinha desde os 16 anos de idade. Durante a tomada da embarcação, o comandante do navio e mais dois oficiais acabaram mortos, por não aceitaram abandonar a nave de guerra. No mesmo dia, o Encouraçado “São Paulo” se juntou aos amotinados e, nos dias seguintes, outras embarcações também, como o “Deodoro” e o “Bahia”, entre outros.

Para mostrar que a revolta não era brincadeira, os navios dispararam contra posições militares ao longo da Baía de Guanabara. E uma carta foi enviada ao presidente da república, o Marechal Hermes da Fonseca, com as seguintes reivindicações:

  • Fim dos castigos físicos;
  • Melhoria nas condições de trabalho e vida a bordo;
  • Melhores salários;
  • Retirada de oficiais incompetentes;
  • Melhor educação e instrução aos marinheiros;
  • Anistia a todos os amotinados.

O governo foi pego de surpresa pela ação dos marinheiros, e as opções que se apresentavam para o presidente não eram as melhores. E uma ação militar poderia danificar os novos e caríssimos navios recém-adquiridos pela Marinha Brasileira. Por outro lado, negociar com os amotinados, aos olhos da elite brasileira da época, era algo impensável, além de ser uma forma de reconhecer o mérito das reivindicações dos rebeldes.

A anistia

Em um primeiro momento, o governo optou por negociar com os amotinados, e o deputado José Carlos de Carvalho, um ex-membro da marinha, foi o encarregado de abrir as conversações. Após discutir com a tripulação em todos os quatro navios, ele elaborou um relatório mostrando que as queixas dos marinheiros eram válidas, especialmente com relação aos castigos físicos, e que uma opção militar teria poucas chances de sucesso, dada a organização dos rebeldes e o poder de fogo que tinham nas mãos. Dessa forma, o Congresso Brasileiro começou a trabalhar em um projeto de lei que concederia anistia aos envolvidos e que pudesse acabar com o uso de castigos corporais na Marinha.

No dia 26 de novembro, a anistia foi aprovada, com a sanção do presidente Hermes da Fonseca. E na noite do mesmo dia, as embarcações amotinadas foram devolvidas ao governo.

Consequências da Revolta

Apesar da lei que anistiava os amotinados ter sido aprovada, nem o governo federal, nem as elites da cidade esqueceram a afronta provocada. Nos dias seguintes, mais de 1.300 marinheiros participantes da revolta foram expulsos da marinha. Os que não o foram passaram a ser perseguidos, sob a acusação de estarem planejando um novo golpe.

Muitos dos amotinados foram presos, entre eles, o líder João Cândido, posteriormente inocentado dessas novas acusações e expulso da marinha. Muitos outros marinheiros foram mandados para trabalhar na extração de borracha na Amazônia, onde muitos morreram devido às péssimas condições de trabalho no local.

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