A Revolta da Vacina foi um levante popular ocorrido no Rio de Janeiro, entre os dias 10 e 16 de novembro de 1904, causado pelo descontentamento da população devido a uma campanha obrigatória de vacinação imposta pelo governo da cidade e coordenada pelo médico Oswaldo Cruz.
Durante os 7 dias de revolta, vários conflitos entre a população e forças do governo tomaram conta da cidade, deixando um alto número de presos, mortos e feridos.
Contexto
Entre o final do século XIX e o início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro passou por uma grande expansão industrial. Como capital do Brasil, a cidade era alvo de grandes levas de imigrantes, além de ex-escravos, todos em busca de melhores oportunidades. Além disso, a cidade recebia um grande fluxo de navios pelo porto da cidade, escoadouro natural dos produtos que chegavam e saíam do país.
Como resultado, a população da cidade pulou de, aproximadamente, 500 mil pessoas para mais de 800 mil em pouco mais de 20 anos. O território não estava preparado para esse crescimento, e logo começaram a surgir várias pensões e diversos cortiços, onde famílias inteiras viviam em pequenos espaços.
As condições sanitárias precárias favoreciam o surgimento de diversas doenças, tais como varíola, peste bubônica e febre amarela.
Motivos da Revolta da Vacina
Em 1902, Rodrigues Alves assume a presidência do país com uma missão: resolver os problemas da capital (que, segundo ele, afetavam o desenvolvimento nacional como um todo).
As primeiras medidas tomadas visavam a melhoria do porto da cidade. Pequeno, esse lugar não tinha capacidade para o fluxo de navios, que só aumentava. Para isso, era necessário aumentar o seu cais, bem como o acesso a ele, por meio de novas e largas avenidas.
Como resultado, vários edifícios, muitos deles cortiços, foram demolidos, e os seus moradores despejados, causando grande insatisfação. É importante salientar que os despejos eram compulsórios, ou seja, a população afetada não tinha como contestar as decisões do governo.
A segunda medida visava erradicar do Rio as diversas epidemias que, naquele momento, atacavam a cidade. A tarefa ficou a cargo de Oswaldo Cruz, à frente da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP).
Em primeiro lugar, ele enfrentou a febre amarela atacando o mosquito transmissor. Para resolver o problema da peste bubônica, buscou exterminar ratos e pulgas, além de realizar a limpeza e a desinfecção de ruas e casas. Por último, concentrou seus esforços na varíola.
O estopim
Para a erradicação dessa doença, era necessária uma ampla campanha de vacinação em território nacional. Para isso, um projeto de lei foi aprovado, gerando protesto da oposição e ampla campanha publicitária contrária, que contestava a eficácia da vacina e os métodos truculentos para cumprir a lei. Apesar disso, a campanha, obrigatória, começou.
A população do Rio, já insatisfeita com os despejos promovidos pela reformulação urbana e com as invasões de suas residências para desinfecção, teve que engolir a vacinação obrigatória. Além de tudo, as pessoas não sabiam como funcionava uma vacina, e não acreditavam na sua eficácia. Para piorar, o atestado de vacinação seria obrigatório para matrícula em escolas, casamentos, busca de emprego, etc., e haveria multa para quem não fosse vacinado. Aí foi a gota d’água.
A revolta
As primeiras manifestações começaram no dia 10. Áreas do centro da cidade foram tomadas por manifestantes em protesto contra a vacina. A polícia interveio prendendo alguns manifestantes e dispersando a multidão. Os conflitos foram retomados no dia seguinte, e continuaram até o dia 12. A cidade estava em pé de guerra.
Nos dias seguintes, os confrontos se generalizaram de forma mais violenta, espalhando-se por várias áreas da cidade. Prédios públicos foram atacados, bondes incendiados e barricadas foram montadas para impedir a ação da polícia.
A revolta da vacina foi controlada pelo governo, após muito esforço, no dia 16 de novembro, por meio de um decreto de estado de sítio. A campanha de vacinação passou a ser voluntária. Como saldo da revolta, aproximadamente 945 pessoas foram presas, 30 morreram e mais de 400 foram deportadas para o Acre, território recém conquistado junto à Bolívia, e de difícil acesso. Além disos, uma nova epidemia de varíola acometeu a região, em 1908.
Curiosidade
Durante a revolta, alguns militares, liderados pelo Senador Lauro Sodré, planejaram um golpe de estado contra o governo, aproveitando o caos que tomou conta da cidade. Alertado, o governo aumentou a segurança do Palácio do Catete, sede do poder, enviando tropas para sufocar a rebelião. Após um breve confronto, os militares rebeldes fugiram e os líderes do grupo, entre eles o senador Sodré, foram presos.