As mudanças proporcionadas pelo trabalho, pelas tecnologias, pela economia e por inúmeros outros fenômenos modificaram as formas de vivência e convivência e alteraram os desejos e as vontades dos seres humanos. E se em tempos mais antigos a religiosidade andava mais próxima do cotidiano do homem em sociedade, cada vez mais outros aspectos têm concorrido com esse tema para chamar a atenção e atender os anseios dos indivíduos.
Não à toa, a Sociologia passou a estudar cada vez mais esse afastamento do indivíduo em relação à religião, que possui como nome “secularização”. Um de seus primeiros estudiosos foi o jurista e economista alemão Max Weber (1864 – 1920), considerado um dos fundadores da Sociologia.
Confira, a seguir no Gestão Educacional, os conceitos, as causas, as características e os exemplos desse termo.
O que é secularização?
A secularização é um processo gradual de abandono, por parte do homem, da religiosidade na sua vida. Isto é, o seu modo de viver passa a ficar cada vez menos estruturado na visão e nos hábitos relacionados à religião.
O bispo Bom Orlando Brandes explica bem o sentido do significado de secularização, em um artigo na CNBB: “Secularização significa viver sem Deus, sem religião, porque século significa mundo. Secularização é um estilo de vida, uma cultura, um jeito de viver, sem fé, sem Deus, sem a dimensão espiritual da vida. Viver no mundo, no século e sem transcendência. A medida de tudo é o próprio homem, a razão humana”.
Causas da secularização
Esse conceito surgiu a partir da visão de pensadores como Weber, Émile Durkheim e Karl Marx de que o progresso científico e tecnológico deixava as sociedades ocidentais modernas mais dependentes da ciência para explicar os fenômenos e também para fazer o controle do mundo social. Com isso, gradativamente a religião passaria a perder a sua relevância em relação aos demais aspectos da vida moderna.
Apesar dessa causa para o surgimento da secularização, apontada por três dos maiores pensadores da Sociologia, não se trata de uma sentença definitiva. Enquanto alguns defendem o crescimento da secularização do mundo moderno, há outros que acreditam que a religião ainda tem peso importante na vida dos indivíduos e nas suas relações sociais.
Características
Em sua obra mais famosa, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Weber trata da secularização, ao mencionar que a modernidade tem como característica o frequente conflito entre a razão instrumental, usada para se chegar a algum fim, e o pensamento religioso, tradicional, que sofria perda de relevância. Na visão do sociólogo, esse processo é conhecido como o desencantamento do mundo, em que o indivíduo moderno passa a abandonar os costumes e as crenças fundamentadas nas tradições aprendidas no passado e que se apoiam em aspectos dogmáticos da religião e até mesmo da magia.
Porém, Manuela Sousa Luz e Paula Rocha levantam um aspecto interessante a respeito do tema, no artigo A propósito da secularização e das metamorfoses de um mundo (re)encantado. Para as autoras, o processo de secularização não é referido necessariamente a um abandono da religiosidade em si, mas tem a ver com a questão da religião como autoridade na vida social, fato comum até a Idade Média, por exemplo.
“A secularização refere-se, portanto, ao declínio da autoridade social da religião e não das manifestações religiosas, isto é, da presença, ausência da crença, organização ou ritual religioso. Trata-se de um projeto social desenvolvido por alguns atores e, também, pela resistência de outros, que veem na secularização um fim em si mesmo, ao invés de um processo. Tal facto direciona a atenção para os conflitos que surgem acerca da autoridade religiosa e para os atores sociais que são relevantes nesses mesmos conflitos, emergentes das consequências das lutas sociais em vez das mudanças institucionais concretas”, escrevem.
Exemplos de secularização
A Revolução Industrial foi um marco para diversas transformações em nossa sociedade. Isso também ocorreu com relação à religião. As relações comerciais passaram a integrar cada vez mais as relações sociais, com o lucro passando a ser prioridade, o que exigiu maior racionalidade dos atores participantes.
Isso avançou e atingiu as demais instituições dos Estados modernos, em especial na burocratização e na separação entre o público e o religioso, ou seja, na criação do chamado estado laico, em que religião e Estado não se misturam, deixando de lado as formas de controle religiosas.
Como se vê, a secularização está relacionada à construção do mundo moderno. Com a queda das teocracias da Europa feudal, apareceram diversas instituições que passaram a se organizar de maneira diferente, a partir da nova realidade, afastando a religião da centralidade da vida do homem e de suas relações.
Conclusão
A secularização é um fenômeno ligado às mudanças ocorridas a partir do surgimento do Estado moderno e da criação das sociedades capitalistas que mudaram as relações sociais e trouxeram a razão para o centro do debate, relegando a religião a um papel menor na sociedade, ao menos em tese.
Compreender esse processo de secularização nos permite entender como o pensamento moderno se estruturou e como ele ainda se modifica e nos afeta atualmente. Além disso, nos ajuda a perceber até mesmo o processo em contrário nos dias atuais, em que a religião continua tentando ser mais relevante e tem buscado ser mais atuante na vida em sociedade e nas suas decisões. Entender a história, portanto, é uma maneira de tentar melhorar o futuro.