O suicídio é um problema que afeta todas as sociedades desde sempre, mesmo que tenha sido teorizado em séculos mais recentes. Em geral, para que uma pessoa se suicide, é preciso passar por longos estágios de dor, sofrimento e angústia. Essa dor da alma pode ter várias causas ou mesmo ser a consequência de alguma situação ou algum problema vivido.
Neste texto, trataremos de como o suicídio era encarado no passado, além de uma parte conceitual e sociológica que envolve o fenômeno. Também, apresentaremos alguns dados mais recentes sobre o suicídio, que tem diminuído no mundo, mas crescido entre os jovens brasileiros.
Suicídio ao longo da história
O termo suicídio foi criado pelo abade Desfontaines, em 1737, e tem na origem o latim, com a junção de “sui” (si mesmo) e “caederes” (ação de matar). A forma como as pessoas reagem ao suicídio pode variar conforme a cultura do local e do tempo.
Na Roma Antiga, por exemplo, a morte não tinha tanto significado. O mais importante era o meio pelo qual se morria, sendo considerado um ato digno e cometido no momento certo. Entre os cristãos, a morte era vista como a libertação de um mundo repleto de dor, sofrimento e iniquidade, portanto, um caminho mais rápido ao Paraíso.
Isso mudou entre os séculos V e VI, durante os concílios de Orleans, Braga e Toledo. Nesses eventos, ocorreram várias transformações na religião católica. Entre elas, foram proibidas quaisquer homenagens aos suicidas, e aos que tentavam e não conseguiam a morte, estes passaram a ser excomungados. Dessa forma, o suicídio virou pecado e crime, com consequências até mesmo aos familiares, muitos deles perseguidos e vítimas de preconceitos. Apenas a partir do Renascimento (ocorrido entre a metade do século XIV e o final do XVI), um período mais romântico, em especial nas artes, o suicida passou a ganhar respeito e até certo fascínio.
Suicídio segundo Durkheim
O sociólogo francês Émile Durkheim (1858 – 1917) tem uma obra de nome Suicídio, que acabou se tornando basilar da Sociologia. Trata-se de um estudo de caso, publicado em 1897, considerado único até então. Nele, Durkheim afirma que o suicídio é toda morte que causa, direta ou indiretamente, de um ato, positivo e negativo, cometido pela própria vítima, sendo que esta já sabia que poderia resultar nisso.
Durkheim definiu a possibilidade de três tipos de suicídio:
Egoísta
Quando o ego da pessoa se afirma de forma demasiada em relação ao ego social. As relações entre os sujeitos e a sociedade são afrouxadas, levando a pessoa a não ver mais objetivo ou razão na própria vida.
Altruísta
O indivíduo sente que deve cometer o suicídio para desembaraçar-se de um problema insuperável. Aqui, Durkheim destaca que o ego está fora de si mesmo e se confunde com outra coisa. Como exemplo, podemos citar os kamikazes japoneses, que guiavam seus aviões carregados de explosivos para efetuar ataques suicidas contra navios aliados no Oceano Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial, além dos terroristas que colidiram aviões de passageiros contra as torres do World Trade Center, em Nova Iorque, em 2001.
Anômico
O suicídio neste caso ocorre em estado de anomia social, isto é, quando não há regras na sociedade. Isso provoca a anormalidade e o caos no tecido social. Por exemplo, em quadros de aguda crise econômica, muitas pessoas podem perder ocupação, renda e status, gerando o aumento nas taxas de suicídio. Segundo o conceito, a anomia social costuma atingir mais os países ricos, pois os mais pobres conseguiriam lidar mais facilmente com situações como essa.
Suicídio no Brasil e no mundo
Atualmente, as taxas de suicídio têm arrefecido na maior parte do mundo. Mas, no Brasil, os números apontam para um dado alarmante: os jovens têm buscado mais esse ato extremo. Os dados mais recentes disponíveis são de um estudo de 2016 publicado pelo Global Burden Disease, que pesquisa as causas de morte em cada país. Conforme esse estudo, o número de suicídios caiu 33% desde 1990.
O número cresceu no período, de 762 mil para 817 mil mortes, porém, ao considerar o crescimento da população e a padronização por faixa etária, os resultados evidenciam a queda na taxa.
A maior redução foi entre as mulheres, com 49%. Já entre os homens, a redução foi de 24%. O estudo apontou, ainda, que, mesmo o suicídio figurando entre as 10 principais causas de morte em países de alta renda da América do Norte, Europa e Ásia, os indivíduos que estão cometendo suicídio estão entre aqueles com menor status social e pouca renda.
O suicídio é atualmente uma das principais causas de morte de jovens no mundo. E no Brasil não seria diferente. Se lá fora o suicídio tem demonstrado maior queda, por aqui os dados assustam. Pesquisa da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) revela que, entre 2006 e 2015, as mortes por suicídio na faixa etária entre 10 e 19 anos aumentaram 24% nas seis maiores cidades brasileiras. No interior do país, a taxa subiu 13%. O estudo foi publicado recentemente na Revista Brasileira de Psiquiatria e aponta que o suicídio mata até três vezes mais os adolescentes do sexo masculino.
Entre as possíveis causas para esses números estão a popularização da internet, que aumentou o cyberbullying; as transformações sociais ocorridas no país nos últimos anos, que, se melhoram as condições financeiras das famílias, possibilitam maior acesso a drogas e álcool nessa faixa etária; e a falta de políticas públicas de combate ao problema – os pesquisadores usaram dados do SUS (Sistema Único de Saúde), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e Coeficiente Gini (que mede a desigualdade dos países) para chegar aos resultados.