A violência nas grandes cidades é um problema que tem sido instrumento de estudos por intelectuais há muitos anos, em busca de um entendimento maior do tema e, consequentemente, de soluções para a resolução desta questão, que tem origem em vários aspectos.
Neste artigo, vamos entender as causas que têm provocado esse aumento da violência nas cidades de maior porte, em especial no Brasil. Também, apresentaremos números e reflexões de especialistas a respeito desse problema social. Só aqui, no Gestão Educacional!
Do que se trata a violência nas grandes cidades?
Para a OMS (Organização Mundial da Saúde), a violência está relacionada à imposição de algum grau intenso de dor e sofrimento a outro indivíduo. Conforme os defensores dos direitos humanos, a violência está ligada à violação dos direitos civis dos indivíduos. Porém, os intelectuais da área acreditam em uma representação mais complexa e profunda para tratar da violência, que possui diversas formas além da urbana, como nas guerras, nas misérias, nas discriminações e nos preconceitos etc.
Mas, no caso da violência nas grandes cidades, essa tomou um nível de agressividade tamanho que afeta o dia a dia das pessoas, aterrorizadas, com os crimes ocorrendo por vezes diante do seu nariz. Esse tipo de violência costuma se expressar desde crimes de menor potencial até mesmo atos mais selvagens, graças ao aumento do crime organizado, das milícias e em torno do tráfico de drogas, gerando um verdadeiro mercado que faz circular dinheiro e poder entre várias esferas da sociedade.
As raízes da violência nas grandes cidades
A verdade é que a violência é parte profunda da formação do Estado brasileiro, remetendo aos tempos da colonização. Milhares de índios nativos foram escravizados e assassinados, assim como os negros que foram trazidos ao país à força e também submetidos a condições inumanas, tendo famílias e culturas dizimadas. E mesmo com a abolição da escravatura, que, em tese, acabaria com a exploração, muitos negros foram jogados às ruas sem nenhum auxílio e acabaram marginalizados da sociedade, sem trabalho nem moradia, ou mesmo presos.
O crescimento das cidades e o êxodo rural da metade do século XX, que trouxe massas de brasileiros para as regiões Sudeste e Sul, levou a uma ocupação desordenada dos territórios, que não tiveram um planejamento para ofertar moradia, saúde, educação, lazer e trabalho próximos a esses locais, que ficavam cada vez mais distantes das regiões centrais, como ocorreu em São Paulo. Isso gerou uma divisão das cidades, em que áreas mais nobres, desenvolvidas e com emprego, acabavam sendo ocupadas pelas elites, enquanto que as áreas mais distantes e as franjas dos municípios, sem qualquer estrutura, receberam os migrantes nordestinos, os negros e os pobres em geral.
Esse cenário se agravou com um sistema econômico que primeiro produziu riqueza para depois repartir o bolo, sem fazê-lo de fato, gerando altos índices de concentração de renda e de exclusão social alarmantes que são a marca principal da sociedade brasileira até hoje. Enquanto isso, a propaganda incentiva o consumo para massas de pessoas que não têm acesso a questões básicas, nem de trabalhar para melhorar de vida.
Sem oportunidades, sem políticas públicas para propiciar algum sentido, muitos jovens acabam se vendo atraídos pelo crime organizado, que oferece ascensão social, dinheiro e poder de forma fácil, ainda que o destino final seja o que todos sabem. O crime acaba, portanto, ocupando o lugar do Estado que não consegue oferecer nenhuma possibilidade de vida a jovens desassistidos e querendo fazer parte da sociedade de consumo que se incentiva tanto no capitalismo global.
A morte em números
O resultado dessa crescente violência é o aumento na quantidade de homicídios no Brasil. Para se ter uma ideia, de acordo com o Atlas da Violência de 2018, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o Brasil registrou 62.517 assassinatos em 2016, ou seja, 30 vezes maior do que o que ocorreu na Europa.
Para piorar o cenário, nos últimos 11 anos foram assassinadas 533 mil pessoas, um total de mortes pouco maior do que ocorrido na Síria, um país árabe que convive há sete anos com uma guerra civil e registrou cerca de 500 mil mortos, conforme estimativa da ONU (Organização das Nações Unidas).
Os homicídios no Brasil equivalem à queda diária de um Boeing 737 lotado, representando 10% das mortes no país. E, desse contingente, 56,6% das mortes violentas atingem jovens entre 15 e 19 anos. Os números revelam, ainda, um forte conteúdo social e racista, já que 71,5% das pessoas assassinadas são negras ou pardas.
Conclusão
A violência nas grandes cidades nos alerta quanto a um grave problema social que precisa ser encarado de frente pela sociedade e pelo Estado. Mas, ao que parece, o combate à violência com mais violência não parece ser um caminho resolutivo, ainda que isso seja apregoado por políticos e parte importante da sociedade atualmente. A política pública de aumentar o confronto precisa ser revista e, pelo menos, acompanhada de maior investimento em políticas sociais que oportunizem uma vida melhor a quem não tem esperança.
É preciso dar condições para que quem está na base da pirâmide possa ascender socialmente e encontre um horizonte decente, não apenas o crime como opção. Se pobreza não é desculpa para o crime, este não pode ser o único braço a ser estendido para os jovens brasileiros.